Et voila aqui estou eu de volta ao meu canto da escrita.
Andei, como costumo dizer “em retiro interior”, pensando,
repensando e voltando a remoer nas atitudes das pessoas e na essência delas.
O engolir certas atitudes, comentários e disponibilidades
criou-me uma enorme azia, revirando-me as entranhas onde incluo o coração,
alterando as minhas próprias prioridades.
Existem, poucas pessoas, em quem realmente confiamos, e nas
quais depositamos uma tal dose de segurança que acreditamos que essas nunca nos
vão desiludir, que estarão sempre lá para o que for necessário, e por mais que
não estejamos colados diariamente, quando falamos parece que nos encontramos
ontem, tal é o conhecimento sobre a essência do outro.
O choque acontece quando até mesmo essas nos desiludem, de
uma forma tão atroz, em que nos sentimos magoados, desiludidos e pior do que
isso pomos em causa toda a amizade que tivemos, toda a partilha que demos e
recebemos, sentimo-nos usados, substituíveis - descartáveis.
Será esse acordar para a realidade, para a perceção que até
os “perfeitos” têm enormes defeitos, que nos determina como adultos? Se assim
é, eu não quero ser adulta, queria continuar a acreditar que os amigos estarão
sempre lá, para chorar e rir connosco, que nos compreendem, que nos conhecem
como realmente somos, que não nos surpreendem com tiradas de falsidade,
indiferença, egoísmo, que não se lembram que existimos, que precisamos deles
que tudo isso nos magoa. Essa descoberta é como se nos arrancassem partes de
nós, tão importantes como a alma, a pureza indiscritível de sabermos que temos
verdadeiros amigos.
Que num mundo de correrias, hipocrisias, competição temos
sempre alguns, que aconteça o que acontecer estarão lá.
Bem eu ando numa fase de desconfiança e desalento nas
pessoas, quer-me parecer que somos importantes quando somos precisos para algo
muito específico, nem que seja companhia, e quando algo acontece que tenha mais
interesse a pessoa é colocada no banco de espera, até voltar a ser necessária a
“companhia”.
No meu cérebro gritam palavras como “és parva já devias
saber que assim é”, “ para que acreditas tantos nos outros?”, “para que é que
te preocupas?” ao mesmo tempo que penso “afinal sou amiga ou não sou?”, “será
que realmente é como estou a pensar? Não terei também um pouco de culpa por
isto ter acontecido?”, mas no fundo, bem lá no fundo do meu ser eu sei que as
pessoas desiludem, pregam-nos partidas tão grandes que as catapultam para o
mundo dos adultos.
O mais inacreditável é que as pessoas acham essas atitudes
normais, com comentários do género: “A vida é assim mesmo”, “quando as pessoas
casam mudam”, “quando as pessoas têm filhos mudam”, será que é assim mesmo? É
necessário esquecer a vida que tivemos e as pessoas que fizeram parte dela pela
entrada em novas etapas?
Se assim é quero continuar a ser exatamente como sou: livre,
de amigos que efetivamente não o são, passarão a ser simplesmente conhecidos, afinal é isso que me magoa tanto.