quarta-feira, 17 de abril de 2013

Entre vários mundos






Como uma tela, sou pincelada de várias nuances de cores, ora mais dramáticas, ora mais singelas, carregadas e sombrias, mais suaves e quase ténues.

Fui sendo construída por vários mundos.

Os mundos que me fazem ser uma mulher cheia de histórias e historietas.

Onde cada bocadinho é feito de um novo mistério.

São tantos que nem mesmo eu os conheço a todos.

Sou habitada por várias personalidades, onde cada uma é alienada das restantes:

A revoltada, indignada, amargurada, angustiada…

A sonhadora, imaginativa, criativa…

A artista, desiluda, solitária…

A manipuladora, controladora, egocêntrica…

A profissional, exigente, picuinhas…

A amante, genuína, expressiva…

A cómica, extrovertida, livre…

A cantora desafinada, intensa…

A líder, autoritária, indomável…

A tarada, insaciada, voraz…

A desleixada, desligada, despreocupada…

A tímida, medrosa, insegura…

A amiga, preocupada, verdadeira, autentica…

Nem sempre as personalidades surgem pela ordem colocada, todas se misturam em diferentes situações.

Existe uma que nem sempre me acompanha:

- A estranha que, de quando em vez, vai acordando comigo, transformando os dias comuns em safaris repletos de montanhas russas imprevisíveis.  

Tenho o ouvido bem aguçado para escutar o turbilhão de musiquetas que saem dos outros, em muitas ocasiões sem recorrerem a qualquer som, saltam diretamente dos seus corações.

A minha boca é grande, mas nem sempre os pensamentos saem facilmente, apertam-se e saem atropelados, aos trambolhões gritando as silabas de forma desconexa e descontrolada. Qual porta de emergência do coração, os sentimentos abrem-na sem qualquer dificuldade, passam pela rampa da língua e saltam para o ar, desconhecendo o resultado final do salto.

Sempre tive olhos grandes, grandes demais (acho) de cor castanha, cor da honestidade, pelo menos assim reza a música. São independentes, como um órgão livre procuram encontrar as estradas da felicidade em cada imagem que observam, são muito distraídos perdem-se, quase sempre, com ilusões enubladas por uma miopia constante distorcida, permanente.

A minha barriga é proeminente e estou a consciencializar-me que nunca será pequena, repleta de doces e iguarias, na tentativa de ajudar os olhos na sua procura pelas estradas da felicidade vai-se enchendo cada vez mais, cada paladar é um encontro inesperado com um caminho diferente. Anda desiludida, solitária, mas muito sonhadora e ansiosa de vida.  

Sou o Leão e o Cordeiro.

Perseguida por uma esquizofrenia constante, gosto de me sentir, a mim, na minha pele.

Sou sem dúvida e minha melhor: amiga, empregada, patroa, confidente, gestora…

Ainda na solidão sou escoltada por imensas pessoas, a minha imaginação é constante, as minhas mãos são sempre as primeiras a limpar as minhas lágrimas, a minha voz é sempre o som mais familiar que reconheço.

Quando me olho ao espelho nem sempre me identifico, os movimentos que crio no meu cérebro nem sempre são os que o meu corpo agiliza, a minha pele nem sempre está sedosa, o meu cabelo nem sempre ondula, mas dentro de mim voam pássaros, agitam-se mares, sente-se a relva fresca debaixo dos pés descalços, ainda que inchados têm a capacidade de planar voando pela magia que é a vida.

Esta estranha que me habita é a minha melhor companhia, espero que assim seja sempre, pois quando deixar de a sentir ficarei mergulhada num profundo vazio, num mundo escuro, oco, sem significado, sem verdade, sem vida.