quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A CADEIRA BEGE

Na minha cidade há uma cadeira, feita de pele, cor bege, estofo confortável.
Colocada a muito custo, com algum engenho, alinhada com as demais, em sala de destaque.
Sobre ela estiveram, crianças, políticos, artistas, idosos, pais, filhos, sonhadores, depressivos, gente séria e menos séria, brancos, pretos, religiosos e não religiosos, desportistas, vencedores e derrotados.
Assistiu a estreias de cinema e à emoção projectada na tela, visionada por casais de namorados, que de me mãos dadas sentiam o coração bater mais forte.
Dela se viram peças de teatro, com os seus dramas, comédias, tragédias, revistas… se ouviu as 3 pancadas no palco para se dar lugar à imaginação.
Viram-se congressos, festas de escolas, debates, concertos, apresentações e até patinagem.
Fosse Verão ou Inverno a cadeira teve companhia, e não uma companhia qualquer…era feita de alegria, de fantasias, de sonhos, de ilusões, de saudades, de esperanças, de amor.
 Sentiu lágrimas, risos, apertos nos seus braços e o mexer nervoso da emoção.
Eles foram rabos elegantes, jeitosos, e gostosos, foram rabos gordos, pesados que a muito custo lá se sentaram, tudo ela suportou. 
Ouviu música clássica e relaxou, heavy metal e quase arrebentou.
Até que a cidade recebeu outras cadeiras, mais modernas, numa outra sala bem mais imponente e glamorosa. As luzes apagaram-se, a cadeira encheu-se de escuridão, frio e pó. As vozes foram-se calando e o silêncio a sua única companhia.
Dizem que vai ser arrancada, desmantelada e levada para outro espaço novo, qual Fénix renascida, vai ser restaurada, sim porque os anos também passaram por ela e a idade já não engana ninguém.
 A cadeira bege vai viver tudo de novo, onde o sonho está agora a renascer e muito por causa dela.