domingo, 15 de janeiro de 2012

O MEU PALCO

A minha vida tem dois palcos: um, é o meu palco real, onde, me sufoco, me conservo, me imagino, me iludo, me desgasto, me ponho à prova, me apaixono, me desvendo…
O outro palco é o meu teatro, onde sou uma amadora e como outrora me disseram: “porque se explora o coração e se descobre onde ele é grande, onde se sente que é o tal lugar que se procura”.
Lá serei uma eterna criança, onde me rio de mim própria, onde descubro novos seres dentro de mim, é certo que são personagens de uma qualquer obra de papel, não têm carne, mas têm alma em cada um que os imagina, que os reinventa, que os sente.
Sou uma criança, uma bruxa, uma menina caprichosa e egoísta, uma qualquer coscuvilheira de beira de rua, uma modelo, ou uma sábia velhinha, tudo é possível, encontro todas as personagens dentro de mim, basta procurar um pouco mais, ou encontro-as nas minhas próprias características.
A sensação de sentir uma raiva que não é a nossa, uma emoção que é fachada, um sorriso trabalhado, uma expressão produzida, pode parecer algo muito mecânico, mas na realidade não é, cada expressão, cada sorriso, cada entoação de voz, com o tempo, acaba por fluir naturalmente e acaba por se misturar em nós.
O palco no teatro tem magia, tem uma alma fascinante. Na vida real por mais que digamos o contrário, cada um luta por si, vive os seus sonhos, no teatro tudo é encantadoramente diferente. Todos lutam pelo mesmo, todos vivem aquele sonho…desde o contra regra, o ponto, o actor principal e o figurante, todos têm de cumprir o seu papel o melhor possível, todos são importantes, cada função é fulcral para o sucesso.
A correria, a agitação, os nervos, o pó de arroz e o batom, a peruca e a bengala, tudo move, tudo mexe, tudo ganha vida.   
Os olhos brilham, o coração salta, as pernas tremem… a personagem sai do papel e nasce, estão pessoas à espera de a conhecer, querem saber o seu nome, querem rir e chorar, querem imaginar, querem esquecer os seus problemas.
A sensação de entrar em cena, despir a pele que vestimos desde que nos conhecemos e por algumas horas esquecermos quem realmente somos, para sermos a imaginação, é fantástica. As luzes quentes a baterem-nos na cara, a expectativa das vozes que se começam a calar, o medo que se começa a ir embora à medida que a personagem acorda….
Tudo mexe, tudo se move…
Quando o pano fecha e a peça termina é tudo tão triste, é ter que encarar a nossa própria vida, os nossos problemas reais.
Tudo é sério, terrivelmente sério, tristemente sério…