sexta-feira, 27 de abril de 2012

GULOSA ANÓNIMA


Uma questão que me tem assombrado desde há uns tempinhos para cá é a seguinte: se existem Associações para os Alcoólicos Anónimos, Mulheres que Amam Demais Anónimas, Famílias Anónimas, Associações de Professores Anónimos, e uma série de mais Anónimos, porque é que não existe a Associação dos Gulosos Anónimos?
Para que pessoas como eu que não resistem a um bolo, seja ele de que espécie for: com muito ou pouco creme, açúcar às toneladas ou moderado, chocolate ou creme de ovo, natas ou chantilly, com frutas ou sem, podem ser tortas, tartes, cupcakes ou gigantescos paraísos bolescos, com má ou boa aparência (sim porque os verdadeiros apreciadores sabem bem que a aparência não quer dizer nada, por baixo de uma cara feia esconde-se muitas vezes algo sublime de tão delicioso), com cobertura ou sem ela, típicos ou não tão tradicionais, caseiros ou industriais, lights ou ultra calóricos, dotados de elevados níveis de design ou não.
Pessoas que como eu não resistem ao cheiro inebriante de um bolinho acabado de fazer, que sentem a saliva ganhar proporções de maremoto na boca ao olhar para uma vitrine recheada deste atentado á moral, que sentem os olhos encherem-se de lágrimas ao rejeitarem tal substância e que no seu íntimo sentem “só por mais este dia eu consegui”.
Somos aliciados de todas as formas pelos grandes senhores da Indústria, muitos até proprietários de cadeias mundiais que alastram por todo o planeta este vício, pelos media, e pior muito pior – os nossos amigos que nos dizem “não acredito não vais querer hoje?”, “vá lá só hoje não te faz nada” e sabem bem que esse momento será o princípio do fim, porque experimentar o bolo faz-nos lembrar do sabor, da fantástica sensação de saborear um belo doce, depois volta tudo ao inicio e pensamos “só este bolinho não me vai fazer mal”, o pior é quando chegamos à balança e deparamo-nos com o número que lá aparece, olhamo-nos ao espelho apalpando a carninha proeminente da cintura e celulite que se forma nas coxas, ao mesmo tempo que nos dá um aperto no estomago e vontade de cozermos a boca.
Depois, qual ressaca, abrimos o armário dos doces e voltamos a atacar de uma forma desmedida como para acalmar os níveis de ansiedade.
A situação complica-se quando verificamos que depois de engordarmos a tendência é continuar a engordar cada vez mais.
Por isso sou da opinião que deveria existir a Associação dos Gulosos Anónimos, para poder ter uma medalhinha e dizer “hoje só por hoje não comerei doces”. 

Tive o cuidado de colocar uma imagem de água e não de doces para não iniciar o maremoto salivar...

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O meu cantinho alcançou hoje as 1000 visitas e por isso estou muito feliz.
A todos os que se têm sentado comigo a ler-me os desabafos, o meu agradecimento.
Espero encontrar-vos muitas vezes por cá...





PAVILION OF WOMEN

Os feriados e domingos são, frequentemente, passados a fazer algo que adoro: ver filmes, algo que nos restantes dias é missão incerta. Se há algo que realmente gosto é: enrolar-me numa manta, vestida a rigor com o meu pijaminha, o belo do chá, ou de preferência uma caixa de algo doce (podem ser chocolates, ou bolachas), telemóvel em silêncio e está feito o ritual para ver um bom filme, daqueles que emocionam, que mexem com a nossa imaginação e nos transportam para outras histórias, oferecendo-nos uns pozinhos mágicos para a nossa própria história.

O de ontem foi excecional: Pavilion of Women, baseado numa obra de Pearl S. Buck

Pavilion of Women conta a história de Madame Wu, uma Chinesa que vive aprisionada a uma relação que não desejou, a costumes que lhe roubam a liberdade, descrevendo brilhantemente a realidade vivida nos anos 40 naquele país Asiático.
Assuntos como o adultério e a possibilidade aberta do sexo masculino possuir concubinas, algo que nos poderá chocar na atualidade, mas que na época era algo comum, normal e aceitável.
Explora as emoções femininas e a submissão às regras familiares em detrimento das suas vontades individuais. Até ao momento em que Madame Wu descobre as emoções reais da entrega a um sentimento incontrolável como o amor, apaixonando-se pelo Padre André.

Trata-se de um drama bem explorado sobre as regras familiares, casamentos, expetativas, diferenças culturais, religiões e liberdade.

Com um final surpreendente, transportando o público para um complexo mundo de inquietações.

Despertou-me a enorme curiosidade para ler o livro.


No dia da comemoração da Liberdade nada como observar a importância da falta dela. A maioria de nós, efetivamente, só sente falta daquilo que não possuí, quando as coisas são alcançadas vão perdendo o sabor. Porém, algo que nunca poderá perder a sua real importância é a Liberdade, afinal a falta dela não foi uma realidade assim tão distante, e em cada dia que passa vamos permitindo que nos roubem pequenos nadas que no final das contas se transformam em tudo. Lutemos sempre pelos nossos ideais, pela nossa verdade, antes que a desilusão nos silencie, nos inquiete e nos tire o pio, amofinando-nos pelo medo. Que o triste passado não volte nunca a ser o insuportável presente.  

terça-feira, 24 de abril de 2012

Imperdoável - Jorge Palma





Imperdoável é o que não vivi
Imperdoável é o que esqueci
Imperdoável é desistir de lutar
Imperdoável é não perdoar

Tive dois reis na mão
E não gostei
Vi catedrais no céu
Não as visitei
Vi carrosséis no mar
Mas não mergulhei
Imperdoável é o que abandonei

Vejo-me cego e confuso nesta cama a latejar
O que seria de mim sem o meu sentido de humor
Praticamente mudo sinto a máquina a bater
É o rugido infernar destas veias a ferver

Imperdoável é dispensar a razão
Imperdoável é esquecer quem bem nos quer
Imperdoável é não sobreviver

Vejo-me cego e confuso nesta cama a latejar
O que seria de mim sem o meu sentido de humor
Praticamente mudo sinto a máquina a bater
É o rugido infernal destas veias a ferver

Imperdoável é o que não vivi
Imperdoável é o que esqueci
Imperdoável é desistir de lutar
Imperdoável é não perdoar

Não perdoar
Não perdoar
Não perdoar

segunda-feira, 23 de abril de 2012

QUE NERVOS

Que raio, até parece perseguição, ando numa fase de escrita tenebrosa, para baixo, com pensamentos e atos negativos como o caneco.
Mas que posso eu fazer, parece uma daquelas alturas chatas que tudo de mau acontece e que não há volta a dar, apesar de saber que tudo são fases e blá blá blá, ando chateada, com esta malta de merda que vou conhecendo, e isso mete-me cá uns nervos.
Cada vez se conhece mais gente que quer subir à custa dos outros e não olha a meios para atingir os fins, felizmente não tenho conhecido muita gente dessa, mas ainda me tenho travado com alguma. Gente manipuladora, que vem sempre com um ar de cordeiro mal morto, dócil, de quem não faz mal a uma formiguinha e depois mata os leões todos em plena selva, greeee. Vozinhas baixinhas, sorrisinhos para aqui, sorrisinhos para ali, queridinhas qual Santinhas do pau oco, sim digo Santinhas, porque a maioria desta gente rasca è proveniente do sexo feminino, poucos homens se dão ao trabalho de serem falsos no trabalho, mostram logo o jogo e pronto não estão cá com coisas.
Ando com um pó ao pessoal amiguinho, que pelas costas dá machadadas para arrumar de vez com a raça, sem coragem para dizer preto no branco o que se passa, seja bom ou mau, muito pelo contrário pela frente fazem um ar sonso, acompanhado de um sorriso amarelo, olhar de quem detesta, mas que pela vozinha “estupida” é só açúcar, quase sempre com um ar de coitadinhas. Gentinha sem sal, sem pimenta, sem sangue nas veias, e sem vergonha na cara.
Quando julguei que ia iniciar uma semana de trabalho calminha, eis que me aparece a cobrinha vestida com aquela pele nojenta, pegajosa, terrivelmente escorregadia e gélida, tenho cá para mim que há sempre um dia em que as cobrinhas engolem o próprio veneno e se engasgam com ele e a pele fica seca como um figo.     
Que nervos pá, uns nervos contra mim, revoltada porque me sinto usada, numa das características melhores que tenho que é a confiança. Não sou de meios-termos, comigo o copo ou está cheio, ou está vazio, ou dou tudo, ou não dou nada, se há coisa que não sou é hipócrita, desse mal não padeço eu, e por vezes prejudico-me e bem, porque as pessoas gostam das pessoazinhas sem sal, que pela frente mostram os dentes e por traz mostram as garras, nunca fui assim e por isso me penalizo. Quando dou, dou tudo, toda a minha confiança, sempre assim fui, defendo até às entranhas, sou de feelings e esses às vezes atraiçoam-me como já devia ter aprendido e teimo em acreditar neles, depois pela 1000000 vez fico revoltada, exatamente como estou agora, mas sou menina para continuar a acreditar, confiar e a cair em mais desilusões.
Uma coisa é certinha, com estas e com outras vou deixando de dar, dar e dar, vou-me protegendo, protegendo, protegendo, com a certeza que me chateio bem menos.
Por mais voltas que dê ao cérebro não consigo entender o porquê da felicidade de uns ser o poço de invejas de outros.
Apesar deste desabafo, continuo com uns nervos daqueles que me fazem serrar os lábios, arregalar os olhos, apertar as mãos, sentir um nó na garganta apertadinho, dizer asneiras isto das poucas vezes que abro a boca, até acho que já sinto o cabelo arrepiado, os pés ganham energia para fazer 3 maratonas seguidinhas.
Pedras? Guardo-as todas um dia vou construir um castelo, com laguinhos cheios de sapos, cobras, cortes de gado, com direito a estrume, todos os tipos de venenos e perfumes.

domingo, 22 de abril de 2012


Depois de anos de insuportáveis dores de cabeça por causa dos meus queridos dentes inclusos, já cá canta o meu aparelho dentário, e já lá foram 20 dias. Passo a vida a abrir a boca na espectativa de encontrar um sorriso magnífico, com os dentes a brilhar de branquinhos e direitinhos, mas que raio ainda me faltam 2 anos, 5 meses e 1 semana.
Não sou uma pessoa paciente...

sexta-feira, 20 de abril de 2012

LOVE LASTS FOREVER

 

Sometimes I think that I know

What love's all about
 
And when I see the light
 
I know I'll be all right

A VIAGEM


O tema da morte, encarar a perda de alguém, ver alguém que já partiu, sempre me fez muita confusão, quer sejam pessoas próximas de mim, ou de alguém que conheça.
Por isso evito ir a funerais, acredito que a maioria das pessoas também o faz, mas sei que a minha relação com esse momento é deveras estranha.
Atinge todo o meu interior de uma forma aterradora.
Lidar com a reta final de um ser humano, observar toda a consternação dos que ainda ficam vivos. Na minha cabeça rebentam pensamentos, imagino o que teria sido a vida da pessoa, se alcançou todos os sonhos que criou, se partiu em paz, se ainda nos ouve.
Verificar que já nada se pode fazer, dizer, ver, os momentos que se podiam ter vivido, os abraços que se podiam ter dado, as mágoas e rancores que se podiam ter ultrapassado, as histórias que se viveram, as alegrias, os amores que se sentiram, os amigos que se largam, a família que é amputada.  
Por tudo o que a pessoa foi, tudo o que deu aos outros, a sua essência, o seu cheiro, a sua voz, o seu sorriso, o seu brilho deixa de fazer parte da nossa realidade, e é isso que me assusta terrivelmente.
Consigo falar de uma forma muito pacífica da morte, e nem tenho qualquer receio da minha própria partida, o que me assusta é a viagem dos que fazem parte do meu mundo e de quem não suporto imaginar a ausência. A ida a funerais embate na minha alma como um torpedo.
Nunca sei o que dizer, como dizer a quem cá fica a conviver com o vazio e as imensas saudades, pois efetivamente não há nada que se possa dizer, não foram criadas as palavras para descrever o que nos vai na alma.
Ontem vivi um momento de partida da avó de uma grande, grande amiga e apesar de todos os constrangimentos do dia, verifiquei a calma e a paz que se viveu em torno da despedida. Foi a primeira vez que encarei tudo de uma forma mais sossegada, muito pela força transcendente da minha amiga que mais parece uma rocha divina. Aceitando a partida sem egoísmos, em paz, dando e dando aos outros, como sempre fizera com a sua avó, com atitudes e gestos característicos de alguém sobrenatural.
Para além da admiração que cresceu imensamente dentro de mim, aumentou, ainda, a calma e a serenidade em relação ao momento, algo que julguei impossível, graças à sua imensa bondade.
O respeito por quem já teve de lidar com o sentimento da perda, carregando-o a vida inteira cresce a cada hora da minha vida.
O medo não desapareceu, continua cá e vai continuar sempre até à minha viagem, porque sou muito egoísta - mas acalmou, reafirmou a certeza que temos de dizer tudo o que sentimos, abraçar quem amamos, dar tudo para que nada fique por dizer, nada fique por fazer, não fiquem sentimentos de mágoa, para ficarmos com a certeza absoluta que tudo ficou em paz e foi realmente vivido e não apenas assistido.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

As aparências iludem













Quantos seres transmitem alegria, e se encontram terrivelmente tristes.
Quantos nos parecem tristes e estão a explodir de alegria.
Quantos sorriem em busca do retorno de um sorriso.
Quantas lágrimas se engolem e ficam apertadinhas no peito, para não se mostrar a tristeza ou até a comoção da alegria.
Os abraços que pedem não para dar força, mas para recebe-la.
As vezes que dizem obrigado, quando não querem dizer nada.
Quantos dizem “que bonito”, quando o que sentem é ”que feio”.
Quantos dormem ao lado de quem já não suportam sequer tocar.
Quantos dormem sós, acompanhados de muita gente.
Quantos dizem “acredita”, quando nem eles acreditam.
Quantos dizem “vou”, quando sabem que nunca irão.
Quantos falam tudo e não transmitem nada.
Quantos  não dizem nada e transmitem tudo.
Quantos choram e não sentem nada.
Quantos sentem tudo e nunca choram.
Quantos têm muito medo e parecem fortalezas.
Quantos são fortalezas e parecem medrosos.
Quantos estão sempre sós e parecem sempre acompanhados.
Quantos estão sempre acompanhados e se sentem sempre sós.
Quantos dizem ”estarei sempre lá”, e nunca estão.
Quantos dizem “adoro-te” e sabem que odeiam.
Quantos dizem “amo-te” e querem dizer “não sinto nada por ti”.
Quantos dizem “não sinto nada por ti” e querem dizer “amo-te”.

Quantos se julgam perfeitos e são, indesculpavelmente,  os mais imperfeitos. 








sexta-feira, 13 de abril de 2012


Hoje é sexta-feira 13, e eu fico muito feliz essencialmente porque é sexta-feira, grande maravilha. Comigo permanece a esperança fantástica, que se apodera de mim todas as santas sextas-feiras, de ter dois dias calmos de descanso, passeio, onde planeio mil e uma coisa para fazer, e onde acaba sempre por acontecer infalivelmente o contrário.
Mas este fim-de-semana vai ser memorável…planos tenho muitos e o primeiro é desligar de sugadores de energia....

Os Estatutos do Homem


Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
Trecho de “Os Estatutos do Homem”, de Thiago de Mello.

Contagem decrescente para o grande dia.....


segunda-feira, 2 de abril de 2012




Há pessoas que tocam a suave imagem da perfeição.
Iludem-nos com magia, transportam-nos para o mundo inebriante da irrealidade.
Invadem-nos com música, roubam-nos os sentidos.
Há pessoas que são rebeldes rios, arvores agitadas, planícies verdes apaziguadoras, como um girassol sedento de luz.
Respiram paixão.
São perseguidos pela admiração dos imperfeitos.
Arrebatam-nos com a grandeza do que aparenta ser uma grande alma.
Transcendem-se e elevam-nos.
Inspiram-nos e apaixonam-nos.
Há pessoas que só se encontram uma vez na vida.
Há pessoas cujas razões se desconhecem.
Há pessoas em que pouco se conhece dos amores, das mágoas, das tristezas e até dos sonhos.
Mesmo nessa falta, admirámo-las.
Ultrapassam o plano terrestre e tocam-nos na alma e apaziguam-na.
Pessoas que ultrapassam a estética física e permutam-se na perfeição interior.
Há pessoas que vivem acompanhadas pela solidão.
Vivem do amor à arte, à contemplação.
Há pessoas que admiramos, e queremos roubar da solidão.
Há pessoas grandes, muito grandes que fazem o coração bater, os olhos brilhar, o sangue ganhar velocidade, o sorriso abrir-se, o cérebro imaginar.
Há pessoas singulares e por isso eternas.
Há pessoas que ainda não sabem que são insubstituíveis.