terça-feira, 13 de maio de 2014

Dança da Primavera




Procuro no silêncio a luz…
Que transporte com ela o brilho da infância.
Aquela luz quente que sempre me enchia a face.
Nas tardes de Primavera.
Quando as minhas pernas eram ainda muito pequenas para poderem alcançar as árvores, os seus galhos e os pássaros que nelas repousavam.
Quando o meu corpo era ágil, tão ágil que desdobrava os sonhos e criava realidades.
No tempo em que dançava por entre os campos de girassóis.
Rodopiando, rodopiando, com o meu longo cabelo a ondular na brisa da fantasia.
Onde em cada fio, pendiam pássaros.
Aqueles que me elevavam ao cume das árvores e me faziam girar e girar, numa dança sem fim.
Fechava os olhos e ouvia a sua música e eles bailavam e bailavam comigo, num ritmo alucinante.  
Naquela relva fresca, tão fresca que os meus pés sempre descalços eram invadidos de tamanha energia que quase me faziam voar e voar pela imensidão dos campos amarelos.
De braços bem abertos na tentativa de abraçar o mundo era puxada para um lugar repleto de paz.
Sempre julguei possível agarrar o círculo da terra.
Aquele azul, o azul do céu e do mar.
Naquela longitude, onde o infinito é sempre alcançável.
Onde o sol sempre brilhou.
Procuro e procuro a luz.
Aquela luz …
Que transporte com ela aquele brilho, aquele odor, aquela brisa - a da infância.
Fecho os olhos e já não sinto os pássaros no meu cabelo a elevarem-me, a dançarem comigo nos campos amarelos.
Os meus braços já não se abrem para abraçar o mundo.
Luto, incessantemente para que seja ele a abraçar-me.
Neste tempo em que não dou já passos descalça.
Nesta Primavera em que os campos continuam amarelos.
O azul do Mar e do céu sempre longínquo se mantem no mesmo local.
O sol continua a brilhar e a aquecer-me a face.
Esta que agora me acompanha.
Nesta pele que me cobre e que eu já mal reconheço.
Estas mãos que ansiavam agarrar as brisas frescas.
Estão agora diferentes, enrugadas, manchadas pela vida que foram desbravando …
Mas foram elas sempre as primeiras a afagarem-me as lágrimas
Esta estranha que agora me habita procura, ainda, a luz, aquela Luz…