terça-feira, 7 de maio de 2013

Saudades de um amor inexistente


Os olhos procuram no vazio a chama de uma emoção autêntica.
Como o vento forte a solidão destrói-nos.
Os risos lancinantes são sempre isolados.
As mãos enrugam-se, entortam-se, mutua companhia inconsciente.
Os caminhos percorrem-se em silêncio, um silêncio atroz, ensurdecedor.
As palavras ecoam fervorosa e dolorosamente na inquietude devastadora da imaginação.
Os lábios minguam, secam de vontade, torturam-se, perdem a voluptuosidade.
No deslindar da solidão tudo se transforma.
Nada acontece, nada muda.
A metamorfose do corpo acompanha a mutação da alma.
Verdade cruel ….
Desiludidos, os seios descaem, cabisbaixos, numa soturna aniquilação da realidade.
Como um rodopio de teclas no piano, os ponteiros do relógio vão fazendo a sua trajetória, perdendo o vigor em cada segundo.
O ventre vai mirrando como orvalho, dando lugar à secura, ao pó - ao nada.
A vontade é alienada, substituída, amputada…
O coração é abandonado, ignorado ao seu infortúnio.
Nada acontece, nada muda.
A alma enrijece, descodifica-se, adoece.
A capacidade de sonhar vai-se apagando em cada por do sol.
As noites vão ficando cada vez mais frias, sedentas de ternura, de amor.
As saudades de um amor inexistente vão destruindo a carne em cada novo acordar da solidão.