sexta-feira, 6 de setembro de 2013

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terça-feira, 27 de agosto de 2013


 
E se algo fabuloso acontecesse num dia???

Por exemplo receber uma prenda de uma loja que se ADORA, assim de surpresa…

Perder a cabeça no meio de tantos objetos absolutamente magníficos, num espaço acolhedor, onde os cheiros perfumados, a música ambiente e as texturas nos invadem os sentidos. Pois é, hoje aconteceu-me isso e fiquei radiante…..

Fiquei feliz por receber uma prenda linda, há problema nisso????
 
Há dias felizes e hoje foi um deles e o de ontem também :)

Ah e atenção a inveja não faz nada bem, por isso façam o esforço para não a terem :)
 
 
 
 

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Hoje é sexta....Mas que mau

Não gosto nada de dormir até tarde, ver filmes, passear e basicamente dolce far niente, oh como eu não gosto....

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O meu blog está tão lindo....Lavei-lhe a cara. Ando numa fase de arrumar gavetas, armários, memórias, pensamentos e objetivos. Claro que este espaço não podia ficar de fora.

Questão que paira na minha cabecinha:

Porque raio as mulheres ganham celulite e os homens não???? Sortudos

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Não gosto do meu dia de anos







Não entendo o porquê das pessoas acharem uma anormalidade eu não gostar do meu dia de aniversário.

Não gosto, não gosto e pronto.

Não tem absolutamente nada a ver com o medo de envelhecer e de me querer ver linda e maravilhosa para o resto da vida, muito menos o receio das rugas, ou cabelos brancos (sim porque esses já se espalharam livremente no meu fascinante cabelo negro).

Julgo sim julgo, porque nem eu sei muito bem o real motivo deste estado de espirito que se manifesta em mim ano após ano desde os 18 anos, talvez se prenda com as espectativas que criei ao longo desta caminhada, e foram altas demasiado altas, talvez iguais às de tantas mulheres iguais a mim.

Por volta dos 14 anos imaginei que aos 30, teria um príncipe encantado ao meu lado, que me iria amar acima de qualquer jogo de futebol, ou filme de ação, que pegaria em mim ao colo e me levaria para o cimo de uma colina só para me mostrar a lua e as estrelas numa bela noite de Verão. Que me aconchegaria os cobertores nas noites de Inverno e ficaria a observar-me, só para ficar com a minha imagem nos seus sonhos. Que me ouviria nos meus ataques de fúria comunicacional e que me daria o seu ombro só para me acariciar a cabeça, e com um suave beijo me acalmaria toda a ira.

Aos 20 e poucos julguei que iria encontrar um emprego fantástico, onde iria desenvolver toda a minha capacidade criativa e me iria possibilitar um nível de vida agradável, que uma casinha acolhedora, toda catita estaria no papo.

Na minha realidade achava possível encontrar todos os meus amigos, todos os fins-de-semana e que estaríamos em agradáveis cavaqueiras para todo o sempre, tudo seria sempre igual e as distancias não seriam nunca um impedimento para nos encontrarmos periodicamente - como fui inocente.

Julguei que a minha vida iria ser constantemente um rodopio de novas experiências, inconsciências, novidades, aventuras e o caminhar dos anos seria apenas isso, sem qualquer conotação negativa.

Pensei demais, imaginei demais, criei demasiados objetivos, sonhei exageradamente de tal forma que me fui esquecendo da realidade.

Leio demais, vejo imensos filmes, no meu cérebro rodopiam balanços e balancetes dos dias que vão passando. Observo os menos cultivados e chego à conclusão que não criando tantas espectativas são bem mais felizes e tudo lhes vai acontecendo sem sequer terem planeado nada.

Ano pós ano, nada se vai alterando na minha vida, a não ser isso o caminhar da idade e uns pozinhos de felicidade de quando em vez, sim porque não sou uma mulher infeliz, agora aquelas grandes metas que idealizei poucas foram as alcançadas.

Ah e não gosto nada daqueles olhares que me lançam quando afirmo que não gosto do meu dia de anos, e muito menos da frase “tu ainda és tão nova”, claro que sou e ainda era mais aos 19 e já não gostava.

Em cada dia 12 de Agosto revejo mentalmente o que passou e fico nostálgica por perceber que mais um ano acabou, e cada momento já não volta a acontecer e fico assustada ao pensar no que se vai seguir nos dias que antecedem o próximo dia 12 de Agosto.

Talvez seja medo, insegurança, nostalgia, solidão, estupidez, ou até uma enorme infantilidade, não sei, sou eu e eu sou assim pelo menos por agora.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Férias 2013

Bem não vejo a hora de parar, para descansar, desfrutar, dormir, saborear pratos novos e lavar as vistas.
Este ano está a ser complicado, inicialmente queríamos fazer um cruzeiro, não muito pela minha vontade mas pela dos meus 3 colegas de viagem, essa ideia vai sendo posta de lado, pelo seu preço avultado.
Não conheço muitos países, pelo que quase qualquer um serve.
Resumo das cidades visitadas nos últimos tempos:
2010: Londres
2011: Palma de Maiorca
2012: (Espanha e Itália) Barcelona, Milão, Verona, Veneza, Florença e Pisa.
Estou virada para as ilhas Gregas tipo Santonini e Miconos ou então Marrocos e as cidades imperiais.
A ver vamos, eu quero é ir….

terça-feira, 16 de julho de 2013

Às vezes é preciso fugir

Às vezes é preciso fugir, não dos outros mas de nós próprios.
Sim fugir para bem longe do presente, deste momento que nos inquieta, que nos perfura, nos magoa.
Na ânsia de encontrar chaves, que abram portas, vontades, daquelas bem escondidas, bem enterradas em nós.
Uma vontade enorme de fechar os olhos e hibernar, durante um longo período, descansar mais do que o corpo - a alma.
Sou uma má companhia para mim própria, nesta fase, ando cansada deste meu sentir.
Dei tudo, esgotei-me, fui mais além de mim, dei tanto que me esvaziei. 
Preciso de me encher de novo, regressar à pesquisa, à busca, à sede de viver, à alegria do dia-a-dia.
Desejo fugir da mais pequena réstia de sugadores energéticos, sobe pena de sucumbir a este cansaço.
Quando as portas ficam entre abertas, como feridas que nunca se fecham, tudo se inquieta, estremecendo como uma torrente de hesitações.

Às vezes é preciso silenciar o coração, acalmá-lo para podermos voltar a viver e encontrar novos caminhos, nem sempre os do coração mas os da razão, nem sempre os da razão mas os do coração. 

As personagens que me habitam



Lágrimas transparentes, secas, translucidas vertem da minha alma em cada partida, em cada despedida.
Como um ato solene gosto de silêncios, de paz, de tranquilidade, para que a introspecção e o adeus não seja tão doloroso.
Geralmente, quando visto a personagem e a procuro em mim, fico extremamente nervosa, o medo de que ela não chegue, ou que chegue tarde demais, absorve-me de tal forma, impedindo-me de serenar.
Quando a sinto vibrar dentro da carne, esqueço-me dos pensamentos da minha real pessoa, ganho a sua agilidade, o seu respirar, a sua voz, o seu sentir, é a magia a apoderar-se de todo o ser, algo absolutamente divino, quase surreal.
No final, bem no final da peça de teatro, já depois dos aplausos, ambas refugiamo-nos no escuro, bem no escurinho… para nos despedirmos, sem palavras, inundadas de uma profunda paz, é muito raro sabermos quando será o reencontro.
A maquilhagem vai embora como a água que desce pelo cano abaixo, dispo-lhe as roupas, as marcas, os adereços, a voz, o cheiro, o timbre, o olhar, as expressões, até o sentir, tudo vai embora, menos a saudade que fica em mim em cada lembrança.

Subsiste um misto de contentamento e tristeza, todas as personagens me habitam, mas nenhuma permanece. 

segunda-feira, 24 de junho de 2013

A caixa da saudade

Na procura desconcertante das minhas cicatrizes encontro-te a ti.
Cada viagem pelas minhas memórias é um novo encontro com a saudade, aquela que me emociona e me faz engendrar travessias em cada poro de cada caixa  na minha pele guardada.
A mesma que me esconde, me encobre, me reserva, me guarda e me protege de mim própria, em arrepios indistintos.
Esta mesma pele que tantas e tantas vezes te amou, agora sem o mesmo brilho sem a mesma juventude, sem a mesma veracidade.
Cada caixa contém um pouco de mim, de ti de nós… amordaçada com uma enorme fita de cobre, entrelaçada com rubro cetim, inquebrável, intransponível, inimitável…
Memórias de um presente há muito vivido, e jamais repetido, de um tempo onde tudo eram caixas vazias, ansiosas de histórias, inconscientes da importância de cada experiência no percurso de um vida – insensatas.
As caixas foram-se enchendo, restando pouco espaço para novas histórias, novos sentimentos, novas verdades, novos amores.

Cada cicatriz encontra uma memória turba da tua imagem em mim, desconhecendo o atual reflexo. Guardo em mim o aperto no coração que o teu sorriso sempre me provocou. 

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Vergonha provinciana


Fico profundamente revoltada com os críticos armados em intelectuais.
Como lâminas bem afiadas apuram língua e mãozinhas analisando profundamente as contribuições culturais dos demais.
Esta espécie humana observa com grande astucia os trabalhos dos outros, com o único intuito de encontrarem alguma aresta menos polida, para depois poderem encher a boca para a censura do esforço alheio.
Redigem textos elaborados, com um manejar de palavras mais ou menos rebuscadas para encetarem a sua tão importante opinião. Geralmente nunca gostam do que observam, os espectáculos ficam sempre a anos luz das suas tão elevadas ambições.
Como cobras venenosas estão sempre prontas a lançar o seu veneno.
De braços bem cruzados e corpinho descansado, acomodam-se nas suas acolhedoras casas, ou no diálogo erudito num qualquer café de beira de rua, em horas de trabalho profundo em torno da arte das conversas do dia a dia.
Os criticados, por sua vez, esfolam a alma e o corpo na procura de algo para dar aos outros, em muitos casos de forma totalmente gratuita, deixam de comer, de dormir, de ter feriados ou fins-de-semana, em horas e horas de trabalho pós laboral, fazem-no por um profundo amor e até generosidade. Não exigem nada, não procuram o êxito, ou aclamação pública, mas sim a cultura, a melhoria do seu interior e a dos Grupos a que pertencem, fortalecendo a vida dos demais.
Por tradição os críticos armados em intelectuais vivem com o olho posto na vida dos outros, quais coscuvilheiras de beira de esquina. Regra geral não acompanham, não contribuem, nada fazem para que as coisas melhorem, sejam diferentes, não arregaçam as mangas para o trabalho, não dão nada mas também nada recebem, pois no ato de cair e levantar, no procurar, no desbravar também se encontra uma sabedora e uma felicidade imensa -impagável.
Os críticos iluminados enchem a boca para falar mal de tudo, não no sentido da crítica construtiva, porque essas sim são bem-vindas, fazem parte de um crescimento conjunto e contribuem para a crescente melhoria. Pelo contrário, falam por falar, sem conhecimento de causa, sem participação, e sem vergonha na cara.
Espanta-me que se teçam comentários condenando as tradições de um povo, julgando-as e avaliando-as como “modelo perfeito de provincianismo”.
Caso os mais críticos eruditos ainda não tenham percebido, a cópia dos actos artísticos alheios não é a solução, nem económica, nem artística, muito menos cultural. Devíamos todos procurar nas nossas raízes, as tradições, os costumes, a alma comum, a nossa história, orgulhemo-nos dela, usando-a como bandeira de crescimento em termos turísticos nacionais e internacionais, porque o caminho dos nosso querido país à beira mar plantado è mesmo esse e não outro.
 È uma vergonha sentir vergonha das nossas gentes, do nosso povo, daquilo que nos faz ser diferentes de todas as outras terras.
 Eu também tenho uma grande vergonha por todos aqueles que se escondem, envergonhados, cobardes, verdadeiros incultos que ainda não compreenderam que a grande aprendizagem acontece pela observação, participação e entrega às tradições genuínas, isso sim “è uma cultura comprometida” e não na cópia de frases feitas pelos outros. 
Afinal aquilo que somos deve ser genuíno, autentico, único, real sem cópias e imitações foleiras, digo eu…. 


quarta-feira, 8 de maio de 2013

Tudo muda…até as pessoas




A minha existência foi sempre silenciosa, pacifica, controlada. Obrigação implícita à minha condição natural de retrato.

Perdi a noção do tempo, cada badalada do relógio grande cá da sala era uma nova queda na minha nostalgia.

Já nada é o que foi, tudo muda…até as pessoas.

Até mesmo a mesa de carvalho, robusta que o Sr. Dr. comprou, faz muito tempo, tem a madeira gasta, já não tem o cheiro de outras épocas, que tanto me agoniava.

Uma das suas grandes pernas já estalou e está por pouco para partir, nem na Páscoa é envernizada. O que esta casa foi e o que é…

Não me recordo como aqui cheguei, sempre me conheci assim, sei que tenho a imagem da D. Teresinha reflectida, e não podia ter outra, gosto de a ter em mim.

Ficava profundamente revoltado se pelo contrário tivesse a imagem de seu pai o Sr. Dr. Florêncio, ui que ideia tenebrosa, estremeço de calafrios de tal pensamento.

Recordo-me que gostava de se sentar na poltrona ao lado da janela central, com o seu cachimbo - que raio de cheiro esquisito aquilo tinha. Colocava as lunetas, observava o jardim exterior do casarão. Nem sei bem porquê, nunca acalmou a sua fúria, nada o aquietava, nem mesmo o cachimbo.

A D. Teresinha sempre foi uma boa menina, desde pequena a doçura era a sua companhia. Ao longo dos anos foi controlando a sua felicidade, os sonantes sorrisos foram substituídos por tímidos movimentos de lábios. Recordo-me da sua insistência para aprender a tocar piano, mal chegava com os pés ao chão e os seus dedinhos já enchiam esta sala de magia. Os seus dedinhos…quais pequenos ramos de flores… as conversas que ela tinha comigo, os sonhos que me foi desvendando.

Nos seus tempos de infância nunca tinha pó pousado em mim, a D. Lucélia - sua mãe, fazia questão de manter a ordem, e a limpeza era a regra máxima.

As lições que a D. Teresinha recebeu - eram horas e horas de normas e regras, quais decretos governamentais da condição de mulher: Como comportar-se em público, como comportar-se em casa, como tratar das lides domésticas, como sentar, como levantar, como olhar, como respirar, como amar…

Bem mas quanto a este tema a menina não cumpriu as regras, ainda me recordo, do seu ar de inquietude quando conheceu o seu grande amor - o António.

Chegou a casa ao final da tarde depois de muitas horas a passear pelo jardim, coradinha de emoção, tremia, os seus olhos tinham um brilho que se manteve até ao ano passado.

Lia e relia cartas e bilhetinhos, tocava músicas alegres no piano, rodopiava ao som do silêncio, só o seu coração se ouvia.

Quando as amigas descobriram o motivo da sua alegria rapidamente a condenaram, pois o Sr. António não era da sua condição, um pobre carpinteiro, sem estatuto, alienado de uma boa condição social.

Era frequente dizerem à menina que nada teria para aprender com ele, que era uma vergonha, que ia ser infeliz e uma pobre coitada.

Sempre umas invejosas aquelas meninas! Nunca compreendi o porquê das mulheres não se auxiliarem nos seus medos, e à medida que os anos iam passando a pontinha de ciúmes estava presente, com conselhos mais invejosos do que verdadeiros.

Quando o Sr. Dr. soube foi um terror, as pisadas daquele homem a entrar na sala eram como machadadas na minha moldura, aquela voz sonante balançava os candeeiros, até o Tobias - o gato cá da casa, esteve dias sem aparecer.

Mas a menina Teresa certa dos seus sentimentos enfrentou aquele homem austero, tenho em mim que o via como um desconhecido, nunca soube o verdadeiro valor daquela filha.

Como uma guerreira disse que faria tudo o que preciso fosse para ficar com António, nem que para isso tivesse de fugir. Estremeço só de me lembrar do som do estalo que levou. As lágrimas ficaram presas nos olhos, mas a menina externamente não chorou.

No dia do seu casamento a sala foi toda decorada com flores, a luz da Primavera entrou como convidada principal. Pegaram-me tantas e tantas vezes, observando-me como se de uma relíquia se tratasse com comentários de admiração pela beleza da menina, uns quantos também criticaram o facto de ser muito roliça - uns maldosos…

O António fora a sua luta vitoriosa e a mais certeira, sorrio só de me lembrar da forma como olhava para a menina, pegando-lhe na mão e beijando-a com toda a doçura e desejo de um imenso amor. Respeitava-a como ninguém o tinha feito até então, ficava feliz por sentir o cheiro da Teresinha nas suas mãos, comungavam dos mesmos delírios, compreendiam-se, o diálogo nunca escasseou nesta sala, nem o jornal o demovia de a ouvir, a casa sempre foi o seu refúgio. Não usavam a expressão “Amo-te”, julgo até que nunca os ouvi proferi-la um ao outro, mas talvez nunca tenha sido necessário.

Gostava especialmente da forma como o Sr. António me observava, aquele olhar também a mim me fazia feliz…

Não foi fácil gerarem filhos, a Teresinha passou anos de tortura, sonhava com a sua barriga a crescer, imaginava a criança a nascer em si, a pegar-lhe, a afagar-lhe o pequeno rosto, a segurar-lhe nas mãos, a tapá-las com os cobertores de malha confortáveis, que ia costurando no cadeirão do Sr. António e quanto mais imaginava mais distante lhe parecia essa certeza.

O olhar da menina foi perdendo brilho sendo dominado por uma nebulosidade permanente.

Quando num Domingo pela manhã a Teresinha entrou na sala, acompanhada de sonantes gargalhadas, roubadas dos tempos de infância, soube que o milagre tinha acontecido – a menina só podia estar de esperanças, a vontade transformara-se em realidade.

Foram meses de alegria…

Mas o parto foi aterrador, como o Francisco era uma criança gordinha a Teresinha sofrera bastante, uma dor intensa da carne, acompanhada de uma felicidade transcendente e de uma curiosidade assoberbada. Quando o pegou pela primeira vez cresceu em si uma profunda responsabilidade, o seu coração dividiu-se em duas metades, uma delas colou-se ao ritmo do pequeno bebé, a outra bombeava o próprio sangue para o organismo.

Amamentou-o com o seu ser, à noite só adormecia quando tudo estava em paz com o pequeno Francisco, não um sono profundo, mas semi desperto, realidade que nunca mais se alterou. Limpava-lhe as lágrimas com beijos, e imensas ternuras, cantava-lhe músicas de embalar, contava-lhe histórias de encantar, brincava como uma pequena garotinha com o seu menino, gastava as suas mãos sedosas nas imensas roupinhas que lhe costurava. Ria quando o seu menino sorria, chorava quando o seu pequenino chorava. As dores de Francisco foram sempre o seu maior sofrimento.

Ao meu lado foi colocado o retrato do pequeno Francisco e no princípio fiquei radiante de alegria, mas com o passar do tempo tudo mudou… 

O colo do Francisco sempre foi o da D. Teresinha, quando se magoava em alguma brincadeira, chegava a casa alvoraçado para a ternura daquela mulher, os seus pesadelos eram transformados em doces sonhos, tudo era apaziguado por aquela voz, ou pelo som das teclas do piano para o distrair de alguma inquietude. As pautas foram sendo substituídas pelas notas preferidas do pequeno.

O António sempre foi mais distante no aconchego de Francisco, talvez pela condição natural de pai.

Sempre achei estranho nunca ter sido carregada pelas mãos do Francisco, nunca se preocupou em saber a história da menina Teresinha, nem sequer qual a sua música preferida.

Os anos foram passando e o pequeno tornou-se num homem muito bonito, tudo muda...até as pessoas.
A D. Teresinha passava horas com o António numa compreensão total, e profunda partilha de vivências.

O Sr. Florêncio partiu para um local com certeza defumado, escuro e bem solitário, sitio de onde nunca devia ter saído, ainda me tentou partir umas quantas vezes mas felizmente nunca conseguiu.

O menino Francisco perseguido pela ideia de seguir as pisadas de seu avô saiu da terra rumo a Coimbra para seguir a carreira de advogado.

Foram bem escassas as vezes que regressou para visitar a menina, inicialmente vinha amiúde, mas rapidamente as visitas foram rareando e com elas as cartas e a proximidade.

A menina por sua vez, não passava uma noite sem pegar no retrato meu vizinho, limpando as suas lágrimas do vidro.

Desculpava as ausências com mil e um argumentos em que só ela acreditava.

O piano foi fechado com a chave e assim contínua, transferindo todos os sons das suas teclas para um intenso silêncio.

Aos Verões seguiram-se as folhas caídas do Outono, e a eles os Invernos carregados de estrondosas tempestades, as cantilenas dos pássaros na Primavera não quebraram a atmosfera pesada desta sala.

Os cabelos brancos transformaram os cabelos negros de Teresinha numa sombra daquilo que foram. A pele foi quebrando e enrugando, como o seu coração que foi perdendo o vigor.

A tosse de António foi-se transformando na banda sonora daquela cumplicidade.

As noites deram lugar aos dias, tudo muda... até as pessoas.
Até a imagem em mim reflectida perdeu o brilho, o pó cobriu-me as entranhas e o reflexo de Teresinha já mal se reconhecia.

António partiu numa manhã de Outono, e com ele levou a pouca esperança daquela mulher. Francisco não compareceu à cerimónia fúnebre, impedido por imensos compromissos laborais.

A menina resignou-se à sua companhia, sentada no cadeirão a olhar para a saudade do passado, tendo como companhia a sua memória, nem o Tobias restou para companhia, as suas 7 vidas foram todas devidamente esgotadas.

Aguardava ansiosamente a chegada do carteiro, na expectativa de notícias do seu menino, aquele que em tempos fora o seu sonho - a sua realidade, o seu objectivo supremo, a sua carne multiplicada em ser.

Eu e os vidros daquela grande janela fomos as testemunhas de tamanha solidão.

Teresinha imaginava na incerteza os caminhos que seu filho percorria, questionava-se pela sua saúde, pela sua alegria, pela sua alimentação, pelos seus sonhos… Passava os olhos pelos seus dedos, quais ramos velhos de árvores desnudadas, sombra daquilo que foram, agora vazios, repletos de histórias, de memórias mas sem ninguém para as contar.

Deixei de ouvir o seu timbre, e que dor isso me causou.

Cheguei a desejar a sua partida, viver assim não era viver, já nada fazia sentido, nada era o que fora, seu corpo estava há muito só, vazio, inerte, tudo mudara...até as pessoas.

A minha Teresinha partiu num dia de Primavera, sentada naquela poltrona de cabedal envelhecido.

Foram muitos os que chegaram para a despedida, até o Francisco.

Inundado de lágrimas beijou as mãos estáticas da sua melhor amiga, aquela agora desconhecida, inerte, parada, gélida – partira.

De joelhos, Francisco, pediu perdão à Teresinha, e eu fui testemunha de tal ato, era já tarde demais, nada podia mudar, a menina já não podia cobrir a sua face de beijos, o seu corpo já não cheirava à sua mãe, nunca mais ouviria a sua voz a aconselhá-lo e a dizer-lhe “meu filho”.

Tudo muda... até as pessoas.
Eu sou o retrato vago de uma memória do passado, da história desta casa agora fechada, onde proliferam as teias de aranha e a escuridão, os sons que oiço são apenas os das madeiras velhas, dos vidros que de quando em vez se partem, e o cheiro, ui esse - é horrível um odor intenso a mofo que me aniquila nesta enorme saudade de vida.

Nunca daqui saí, nunca daqui sairei, nunca me esqueci e nunca me esquecerei da felicidade do passado e do reflexo que trago em mim.
Tudo muda...menos o meu sentir.


terça-feira, 7 de maio de 2013

Saudades de um amor inexistente


Os olhos procuram no vazio a chama de uma emoção autêntica.
Como o vento forte a solidão destrói-nos.
Os risos lancinantes são sempre isolados.
As mãos enrugam-se, entortam-se, mutua companhia inconsciente.
Os caminhos percorrem-se em silêncio, um silêncio atroz, ensurdecedor.
As palavras ecoam fervorosa e dolorosamente na inquietude devastadora da imaginação.
Os lábios minguam, secam de vontade, torturam-se, perdem a voluptuosidade.
No deslindar da solidão tudo se transforma.
Nada acontece, nada muda.
A metamorfose do corpo acompanha a mutação da alma.
Verdade cruel ….
Desiludidos, os seios descaem, cabisbaixos, numa soturna aniquilação da realidade.
Como um rodopio de teclas no piano, os ponteiros do relógio vão fazendo a sua trajetória, perdendo o vigor em cada segundo.
O ventre vai mirrando como orvalho, dando lugar à secura, ao pó - ao nada.
A vontade é alienada, substituída, amputada…
O coração é abandonado, ignorado ao seu infortúnio.
Nada acontece, nada muda.
A alma enrijece, descodifica-se, adoece.
A capacidade de sonhar vai-se apagando em cada por do sol.
As noites vão ficando cada vez mais frias, sedentas de ternura, de amor.
As saudades de um amor inexistente vão destruindo a carne em cada novo acordar da solidão.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Entre vários mundos






Como uma tela, sou pincelada de várias nuances de cores, ora mais dramáticas, ora mais singelas, carregadas e sombrias, mais suaves e quase ténues.

Fui sendo construída por vários mundos.

Os mundos que me fazem ser uma mulher cheia de histórias e historietas.

Onde cada bocadinho é feito de um novo mistério.

São tantos que nem mesmo eu os conheço a todos.

Sou habitada por várias personalidades, onde cada uma é alienada das restantes:

A revoltada, indignada, amargurada, angustiada…

A sonhadora, imaginativa, criativa…

A artista, desiluda, solitária…

A manipuladora, controladora, egocêntrica…

A profissional, exigente, picuinhas…

A amante, genuína, expressiva…

A cómica, extrovertida, livre…

A cantora desafinada, intensa…

A líder, autoritária, indomável…

A tarada, insaciada, voraz…

A desleixada, desligada, despreocupada…

A tímida, medrosa, insegura…

A amiga, preocupada, verdadeira, autentica…

Nem sempre as personalidades surgem pela ordem colocada, todas se misturam em diferentes situações.

Existe uma que nem sempre me acompanha:

- A estranha que, de quando em vez, vai acordando comigo, transformando os dias comuns em safaris repletos de montanhas russas imprevisíveis.  

Tenho o ouvido bem aguçado para escutar o turbilhão de musiquetas que saem dos outros, em muitas ocasiões sem recorrerem a qualquer som, saltam diretamente dos seus corações.

A minha boca é grande, mas nem sempre os pensamentos saem facilmente, apertam-se e saem atropelados, aos trambolhões gritando as silabas de forma desconexa e descontrolada. Qual porta de emergência do coração, os sentimentos abrem-na sem qualquer dificuldade, passam pela rampa da língua e saltam para o ar, desconhecendo o resultado final do salto.

Sempre tive olhos grandes, grandes demais (acho) de cor castanha, cor da honestidade, pelo menos assim reza a música. São independentes, como um órgão livre procuram encontrar as estradas da felicidade em cada imagem que observam, são muito distraídos perdem-se, quase sempre, com ilusões enubladas por uma miopia constante distorcida, permanente.

A minha barriga é proeminente e estou a consciencializar-me que nunca será pequena, repleta de doces e iguarias, na tentativa de ajudar os olhos na sua procura pelas estradas da felicidade vai-se enchendo cada vez mais, cada paladar é um encontro inesperado com um caminho diferente. Anda desiludida, solitária, mas muito sonhadora e ansiosa de vida.  

Sou o Leão e o Cordeiro.

Perseguida por uma esquizofrenia constante, gosto de me sentir, a mim, na minha pele.

Sou sem dúvida e minha melhor: amiga, empregada, patroa, confidente, gestora…

Ainda na solidão sou escoltada por imensas pessoas, a minha imaginação é constante, as minhas mãos são sempre as primeiras a limpar as minhas lágrimas, a minha voz é sempre o som mais familiar que reconheço.

Quando me olho ao espelho nem sempre me identifico, os movimentos que crio no meu cérebro nem sempre são os que o meu corpo agiliza, a minha pele nem sempre está sedosa, o meu cabelo nem sempre ondula, mas dentro de mim voam pássaros, agitam-se mares, sente-se a relva fresca debaixo dos pés descalços, ainda que inchados têm a capacidade de planar voando pela magia que é a vida.

Esta estranha que me habita é a minha melhor companhia, espero que assim seja sempre, pois quando deixar de a sentir ficarei mergulhada num profundo vazio, num mundo escuro, oco, sem significado, sem verdade, sem vida.