sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Sentes o que eu sinto?

Ontem vi o mar e o meu coração sorriu, mas também pensei, como será vê-lo todos os dias? Sentir aquela brisa na face pela aurora? Não digo apenas no Verão, mas essencialmente na fúria do Inverno, com toda a sua revolta e agitação.
Foi aí que outra questão me invadiu o pensamento: “estas pessoas são umas sortudas, os seus olhos vislumbram esta magia diariamente”, subitamente pensei: “mas os meus também se maravilham com a paisagem do campo diariamente, sinto o cheiro a eucalipto, e a terra molhada, oiço o som dos pássaros, vejo as flores do meu jardim, e o sol a bater no meu lago, sinto a paz que se faz sentir ao anoitecer quando as pessoas se recolhem junto das suas lareiras, não há o frenesim da cidade, o buzinar dos transportes, mas paira uma imensa calma no aconchego do lar e isso não tem valor para troca”.
O que os nossos olhos vêm, o que a nossa pele sente é só nosso, ninguém nos rouba, faz parte da nossa história, sejam as emoções de profunda tristeza, ou de alegria.
A beleza que vislumbramos em paisagens, edifícios, pessoas, animais, teatros, cidades, na arte, nas palavras de um livro, entranha-se na nossa pele. 
A forma como sentimos um abraço, um beijo, uma música, um sorriso, o som da palavra “amo-te”, é só nosso, e fica na nossa caixinha de vivências.
Cada um vê o mundo à sua maneira, e é aí que reside a beleza da vida.
Muitas vezes pergunto-me: “o que será que sente uma mulher ao gerar um bebé dentro de si, como é senti-lo a crescer dentro de mim? “, “o que será que sente uma pessoa com 70 anos ao olhar para trás, ver o seu trajecto e os anos que por ela passaram?”, “ o que se sente quando se recebe a noticia que temos uma doença grave?”, “ qual é o sabor de uma verdadeira e grandiosa conquista?”. São questões que me assaltam porque não fazem parte da minha história, que ainda vai muito no início, que ainda tem muitas páginas por escrever, de muitas emoções que se vão guardando à espera de saltarem para a caixa dos momentos reais - os vividos.
Ontem fiquei com a certeza que tudo o que vivi, tem sido bem vivido, com a carga de tristeza e felicidade necessária, para ir construindo uma bela história. É bom quando nos sentimos em paz com a nossa consciência, ainda que por momentos, consciencializamo-nos que tem valido a pena esta caminhada, que as pessoas que se têm cruzado connosco são as certas, mesmo aquelas que não valem o chão que pisamos, apareceram para nos mostrar outros caminhos, outras emoções, pois até com elas crescemos em muitas direcções.
Gosto de conhecer pessoas com as mais diversas características, aprendo sempre grandes lições, as suas histórias vão fazendo a minha mais cheia, completa e emocionante, pois sei que o que os meus olhos vêm, a minha pele sente é só meu, e mesmo nas horas em que estou só, sinto-me bem pois na minha memória vão estando todos aqueles que vou conhecendo, admirando, aprendendo e até não suportando.
Sinto-me bem nesta pele apesar de ter espinhas, pontos negros, celulite, uma banhita que teima em não desaparecer, porque eu sei que isso não passa da minha embalagem, dentro de mim vai um turbilhão de histórias. Afinal nós somos um mundo de contos já vividos e outros fabulosos que ainda estão guardadas na caixinha das surpresas.
Sentes o que eu sinto?