quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Abutres


Como uma bola sobe intensa pressão caminho nos minutos desta vida.
Sobe o olhar atento de abutres, que se apoderam de cargos de poder, domínio que lhes salta de cada poro da pele. Gente incapaz de se auto analisar, de fazer uma observação à sua conduta, tal é o medo da pobreza de espirito que vão encontrar.

Esses medíocres que têm como objetivo único o aumento dos zeros nas suas contas bancárias. Para tal desígnio colocam de lado os direitos humanos, a honestidade, a ética, a verdade.

Julgam-se donos da verdade e do mundo.
Criticam os vigaristas famosos, que surgem nos holofotes da fama, enchendo a boca para falar em verdades, justiças e esquecem-se de se olhar ao espelho, esses abutres.

Enchem a pança em banquetes opulentos, mastigam as carnes desmesuradamente, da mesma forma que comem a alma dos seus sobrevenientes.
Na sombra surgem os inúteis de mais pequena escala que picam o ponto de entrada nos seus trabalhos, que de trabalho têm apenas o nome. Com o rabo bem refastelado, aquecido pela força dos ares condicionados, atados à sua inércia, palermas sem lei que a única coisa que sabem fazer é fugir às responsabilidades. Nada fazem para justificar o dinheiro que se lhe é pago no final do mês. Atiram responsabilidades para o corpo dos outros sem dó nem qualquer piedade. Refugiam-se na sua vil ignorância, onde a única preocupação é ler as ultimas notícias dos blogs da treta, ou observar o último verniz que saiu para o mercado. Na sua razão pisam os outros com o mesmo descaramento com que sorriem para uma qualquer notícia cor-de-rosa ao longo de 8 horas de trabalho, nos 365 dias de cada ano.

Com vozinhas adocicadas e ares de vítimas, onde a maior preocupação é a marca do creme que vão colocar no seu cuidado umbigo.
É esta escumalha que prolifera ao meu redor.

O cheiro a podridão da hipocrisia é de tal forma nauseabundo, que sinto que vou asfixiar a qualquer momento.
Essa aragem entra-me pelas narinas, invadindo-me o cérebro, os olhos, desce pelo sistema sanguíneo, invadindo-me cada artéria, enchendo por inteiro o coração e a alma, quer subir de novo e explodir na boca mas a maquiavélica podridão da sociedade bloqueia-me as palavras, fazendo-as explodir constantemente no meu interior, a qualquer hora do dia, em qualquer dia da semana. Invade-me de tal forma que começo a ter vergonha de me olhar ao espelho.

Sou quase uma estranha neste corpo.
Esses abutres roubam um bocado da minha essência a cada dia que com eles lido.

Abafam-me o riso, as espectativas, os sonhos, a alegria de acreditar na verdade.
Tornam-me numa mulher fria, indiferente, egoísta.

Nesta selva quem se safa é quem melhor aldraba, melhor se esconde, melhor parece, e ou se joga com as mesmas regras ou salta-se fora.
O meu cérebro e o meu corpo querem fugir para bem longe, o mais rapidamente possível, este jogo não é o meu.

Quero voltar a encontrar a mulher que sempre fui, aquela que eu sempre conheci, temo agora que os abutres já a tenham morto e nem eu tenha dado conta disso.