Quando nos deparamos com a verdade, a essência profunda e
inegável do ser humano, aquela verdade negra, suja e incompreensível, as
entranhas revoltam-se, o corpo perde a força, o coração explode de raiva, os olhos
ficam rasos de água e a alma morre aos bocados, em cada novo respirar.
Como dizem alguns: cresce-se, amadurece-se, ganha-se
experiência. Mas no meu íntimo revela-se a mágoa, a triste e revoltante dor da
desilusão.
Quando se ama incontestavelmente
alguém que desde sempre se amou, se conheceu, que nos ajudou a construir o que
hoje somos, sentimos, pensamos e vivemos, essa dor é demolidora.
Quando os alicerces da nossa essência são quebrados a vida
vai perdendo a magia, a alegria e a crença num futuro puro e feliz.
Com o timbre revoltado, como se de um diabo se tratasse
desconhece-se esse som de uma voz sempre conhecida, dá vontade de apagar da
memória, as recordações, matando a meninice e a imagem de alguém no nosso
coração e do nosso cérebro ainda em vida, ceifando as recordações e o fascínio de
uma infância feliz, na tentativa de tornar o presente mais suportável.
Apesar de ser mulher, sinto uma enorme revolta com a atitude de algumas, que nem o facto de supostamente serem mais sensíveis, humanas, ternurentas as inibe de arrancarem das entranhas a sensibilidade, as recordações, a verdade, o amor puro e verdadeiro, em troca da hipocrisia, mentira e cobardia.
A realidade dos adultos é assim mesmo, dura, crua e bem real.