Como água quente que me cobre o corpo, assim os pensamentos
invadem cada canto do meu cérebro. Entram aos trambolhões, teimam e insistem em
permanecer, por mais que os expulse, com gritos e palavrões, persistem e
persistem como que uma droga, altamente viciante.
A sua presença não está nos meus planos, a sua existência não
está nas minhas matemáticas.
Tranco o raio das portas e elas teimam em ficar
entreabertas.
As certezas que fazem parte das minhas veias,
transformaram-se em tremores incertos.
Nasce em mim uma vontade incontrolável de sair, fugir, para
bem longe daqui deste meu sentir, deste meu tormento.
Apanhar vento fresco no rosto, sentir os pés bem fixos na
terra, em terreno firme, seguro.
Encher de novo o corpo de certezas, de respostas, de
caminhos bem sólidos.
Raio de palavra, a firmeza… Procuro-a de tal forma
insistente, que ela teima em me fugir por entre os caminhos que vou
percorrendo.
Sou indomável, sempre fui de tal forma que os pensamentos
fogem-me, levando-me para locais distantes de mim, esses onde eu queria estar
agora.
Como água fria desperto para este momento incerto que me
desvenda e me requebra, sem qualquer aviso prévio.
Gélida é a água que me arrefece este momento.