terça-feira, 19 de março de 2013

A vilã

Quando não se pode gritar alto e a bom som, num qualquer local público, com a raiva avassaladora das teias de aranhas que nos cobrem as paredes internas, do nosso imenso mar interior escreve-se.
Despeja-se como se de um saco de lixo se trata-se todos nossos resíduos, os bons, os maus e os ainda reaproveitáveis.
Cada palavra tem o seu peso, conta histórias, transporta sentimentos, muitas escondem-se debaixo dos moinhos de vento, outras voam nos espirros da verdade.
As minhas palavras quando são doídas, costumam saltar-me da boca, qual milho em panela quente, abrem-se, transformam-se, sonantes, titilantes, queimando-me o timbre, modificam-me o sentido da mensagem, deixando-me muitas vezes revoltada, magoada, desanimada.
Vibro desanimadoramente, como uma pipoca queimada, fico feia aos olhos de que quem me vê, de quem me ouve, de quem me sente. Transfiguro a minha essência através de um espelho baço, sujo, velho, quase repugnante.
Observam-me, criticando, desiludidos na minha explosão.

Afinal quando não falo através de palavras, faço-o através dos olhos, das expressões, da própria carne, nunca fui grande atriz da vida real.


Nasci como um ribeiro que teima em não encontrar o caminho para o mar, vai secando, secando a cada segundo, desacreditando a cada instante.
Quem sou é exposto, ininterruptamente, como a própria natureza, sem subterfúgios ou ilusões, quer se goste ou não, aceite ou se conteste.
Invariavelmente, por isso, sou o reflexo da vilã num filme com personagens reais.
Afinal depois de tudo isto o que importa? sou desta essência - a da verdade…

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