Quando não se pode gritar alto e a bom som, num qualquer
local público, com a raiva avassaladora das teias de aranhas que nos cobrem as
paredes internas, do nosso imenso mar interior escreve-se.
Despeja-se como se de um saco de lixo se trata-se todos
nossos resíduos, os bons, os maus e os ainda reaproveitáveis.
Cada palavra tem o seu peso, conta histórias, transporta
sentimentos, muitas escondem-se debaixo dos moinhos de vento, outras voam nos
espirros da verdade.
As minhas palavras quando são doídas, costumam saltar-me da
boca, qual milho em panela quente, abrem-se, transformam-se, sonantes, titilantes,
queimando-me o timbre, modificam-me o sentido da mensagem, deixando-me muitas
vezes revoltada, magoada, desanimada.
Vibro desanimadoramente, como uma pipoca queimada, fico feia
aos olhos de que quem me vê, de quem me ouve, de quem me sente. Transfiguro a
minha essência através de um espelho baço, sujo, velho, quase repugnante.
Observam-me, criticando, desiludidos na minha explosão.
Afinal quando não falo através de palavras, faço-o através
dos olhos, das expressões, da própria carne, nunca fui grande atriz da vida
real.
Nasci como um ribeiro que teima em não encontrar o caminho
para o mar, vai secando, secando a cada segundo, desacreditando a cada
instante.
Quem sou é exposto, ininterruptamente, como a própria
natureza, sem subterfúgios ou ilusões, quer se goste ou não, aceite ou se
conteste.
Invariavelmente, por isso, sou o reflexo da vilã num filme
com personagens reais.
Afinal depois de tudo isto o que importa? sou desta essência - a da verdade…
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