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terça-feira, 27 de agosto de 2013
E se algo fabuloso acontecesse num dia???
Por exemplo receber uma prenda de uma loja que se ADORA,
assim de surpresa…
Perder a cabeça no meio de tantos objetos absolutamente magníficos,
num espaço acolhedor, onde os cheiros perfumados, a música ambiente e as texturas
nos invadem os sentidos. Pois é, hoje aconteceu-me isso e fiquei radiante…..
Fiquei feliz por receber uma prenda linda, há problema nisso????
Há dias felizes e hoje foi um deles e o de ontem também :)Fiquei feliz por receber uma prenda linda, há problema nisso????
Ah e atenção a inveja não faz nada bem, por isso façam o esforço para não a terem :)
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Hoje é sexta....Mas que mau
Não gosto nada de dormir até tarde, ver filmes, passear e basicamente dolce far niente, oh como eu não gosto....
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
Questão que paira na minha cabecinha:
Porque
raio as mulheres ganham celulite e os homens não???? Sortudos
terça-feira, 20 de agosto de 2013
Não gosto do meu dia de anos
Não entendo o porquê das pessoas acharem uma anormalidade eu não gostar do meu dia de aniversário.
Não gosto, não gosto e pronto.
Não tem absolutamente nada a ver
com o medo de envelhecer e de me querer ver linda e maravilhosa para o resto da
vida, muito menos o receio das rugas, ou cabelos brancos (sim porque esses já
se espalharam livremente no meu fascinante cabelo negro).
Julgo sim julgo, porque nem eu sei
muito bem o real motivo deste estado de espirito que se manifesta em mim ano
após ano desde os 18 anos, talvez se prenda com as espectativas que criei ao
longo desta caminhada, e foram altas demasiado altas, talvez iguais às de
tantas mulheres iguais a mim.
Por volta dos 14 anos imaginei
que aos 30, teria um príncipe encantado ao meu lado, que me iria amar acima de
qualquer jogo de futebol, ou filme de ação, que pegaria em mim ao colo e me
levaria para o cimo de uma colina só para me mostrar a lua e as estrelas numa
bela noite de Verão. Que me aconchegaria os cobertores nas noites de Inverno e
ficaria a observar-me, só para ficar com a minha imagem nos seus sonhos. Que me
ouviria nos meus ataques de fúria comunicacional e que me daria o seu ombro só
para me acariciar a cabeça, e com um suave beijo me acalmaria toda a ira.
Aos 20 e poucos julguei que iria
encontrar um emprego fantástico, onde iria desenvolver toda a minha capacidade
criativa e me iria possibilitar um nível de vida agradável, que uma casinha
acolhedora, toda catita estaria no papo.
Na minha realidade achava possível
encontrar todos os meus amigos, todos os fins-de-semana e que estaríamos em agradáveis
cavaqueiras para todo o sempre, tudo seria sempre igual e as distancias não seriam
nunca um impedimento para nos encontrarmos periodicamente - como fui inocente.
Julguei que a minha vida iria ser
constantemente um rodopio de novas experiências, inconsciências, novidades,
aventuras e o caminhar dos anos seria apenas isso, sem qualquer conotação
negativa.
Pensei demais, imaginei demais,
criei demasiados objetivos, sonhei exageradamente de tal forma que me fui
esquecendo da realidade.
Leio demais, vejo imensos filmes,
no meu cérebro rodopiam balanços e balancetes dos dias que vão passando.
Observo os menos cultivados e chego à conclusão que não criando tantas
espectativas são bem mais felizes e tudo lhes vai acontecendo sem sequer terem
planeado nada.
Ano pós ano, nada se vai
alterando na minha vida, a não ser isso o caminhar da idade e uns pozinhos de
felicidade de quando em vez, sim porque não sou uma mulher infeliz, agora
aquelas grandes metas que idealizei poucas foram as alcançadas.
Ah e não gosto nada daqueles
olhares que me lançam quando afirmo que não gosto do meu dia de anos, e muito
menos da frase “tu ainda és tão nova”, claro que sou e ainda era mais aos 19 e
já não gostava.
Em cada dia 12 de Agosto revejo
mentalmente o que passou e fico nostálgica por perceber que mais um ano acabou,
e cada momento já não volta a acontecer e fico assustada ao pensar no que se
vai seguir nos dias que antecedem o próximo dia 12 de Agosto.
Talvez seja medo, insegurança,
nostalgia, solidão, estupidez, ou até uma enorme infantilidade, não sei, sou eu
e eu sou assim pelo menos por agora.
segunda-feira, 29 de julho de 2013
Férias 2013
Bem não vejo a hora de parar, para descansar, desfrutar,
dormir, saborear pratos novos e lavar as vistas.
Este ano está a ser complicado, inicialmente queríamos fazer
um cruzeiro, não muito pela minha vontade mas pela dos meus 3 colegas de
viagem, essa ideia vai sendo posta de lado, pelo seu preço avultado.
Não conheço muitos países, pelo que quase qualquer um serve.
Resumo das cidades visitadas nos últimos tempos:
2010: Londres
2011: Palma de Maiorca
2012: (Espanha e Itália) Barcelona, Milão, Verona, Veneza,
Florença e Pisa.
Estou virada para as ilhas Gregas tipo Santonini e Miconos
ou então Marrocos e as cidades imperiais.
A ver vamos, eu quero é ir….
terça-feira, 16 de julho de 2013
Às vezes é preciso fugir
Às vezes é preciso fugir, não dos outros mas de nós
próprios.
Sim fugir para bem longe do presente, deste momento que nos
inquieta, que nos perfura, nos magoa.
Na ânsia de encontrar chaves, que abram portas, vontades,
daquelas bem escondidas, bem enterradas em nós.
Uma vontade enorme de fechar os olhos e hibernar, durante um
longo período, descansar mais do que o corpo - a alma.
Sou uma má companhia para mim própria, nesta fase, ando
cansada deste meu sentir.
Dei tudo, esgotei-me, fui mais além de mim, dei
tanto que me esvaziei.
Preciso de me encher de novo, regressar à pesquisa, à busca, à sede de viver, à alegria do dia-a-dia.
Preciso de me encher de novo, regressar à pesquisa, à busca, à sede de viver, à alegria do dia-a-dia.
Desejo fugir da mais pequena réstia de sugadores
energéticos, sobe pena de sucumbir a este cansaço.
Quando as portas ficam entre abertas, como feridas que nunca
se fecham, tudo se inquieta, estremecendo como uma torrente de hesitações.
Às vezes é preciso silenciar o coração, acalmá-lo para
podermos voltar a viver e encontrar novos caminhos, nem sempre os do coração mas os da razão, nem sempre os da razão mas os do coração.
As personagens que me habitam
Lágrimas transparentes, secas,
translucidas vertem da minha alma em cada partida, em cada despedida.
Como um ato solene gosto de
silêncios, de paz, de tranquilidade, para que a introspecção e o adeus não seja
tão doloroso.
Geralmente, quando visto a
personagem e a procuro em mim, fico extremamente nervosa, o medo de que ela não
chegue, ou que chegue tarde demais, absorve-me de tal forma, impedindo-me de serenar.
Quando a sinto vibrar dentro da carne, esqueço-me dos pensamentos da minha real pessoa, ganho a sua
agilidade, o seu respirar, a sua voz, o seu sentir, é a magia a apoderar-se de
todo o ser, algo absolutamente divino, quase surreal.
No final, bem no final da peça de
teatro, já depois dos aplausos, ambas refugiamo-nos no escuro, bem no escurinho…
para nos despedirmos, sem palavras, inundadas de uma profunda paz, é muito raro
sabermos quando será o reencontro.
A maquilhagem vai embora como a
água que desce pelo cano abaixo, dispo-lhe as roupas, as marcas, os adereços, a
voz, o cheiro, o timbre, o olhar, as expressões, até o sentir, tudo vai embora,
menos a saudade que fica em mim em cada lembrança.
Subsiste um misto de
contentamento e tristeza, todas as personagens me habitam, mas nenhuma
permanece.
segunda-feira, 24 de junho de 2013
A caixa da saudade
Na procura desconcertante das minhas cicatrizes encontro-te
a ti.
Cada viagem pelas minhas memórias é um novo encontro com a
saudade, aquela que me emociona e me faz engendrar travessias em cada poro de
cada caixa na minha pele guardada.
A mesma que me esconde, me encobre, me reserva, me guarda e
me protege de mim própria, em arrepios indistintos.
Esta mesma pele que
tantas e tantas vezes te amou, agora sem o mesmo brilho sem a mesma juventude,
sem a mesma veracidade.
Cada caixa contém um pouco de mim, de ti de nós… amordaçada com
uma enorme fita de cobre, entrelaçada com rubro cetim, inquebrável, intransponível,
inimitável…
Memórias de um presente há muito vivido, e jamais repetido,
de um tempo onde tudo eram caixas vazias, ansiosas de histórias, inconscientes
da importância de cada experiência no percurso de um vida – insensatas.
As caixas foram-se enchendo, restando pouco espaço para
novas histórias, novos sentimentos, novas verdades, novos amores.
Cada cicatriz encontra uma memória turba da tua imagem em
mim, desconhecendo o atual reflexo. Guardo em mim o aperto no coração que o teu
sorriso sempre me provocou.
quarta-feira, 22 de maio de 2013
sexta-feira, 10 de maio de 2013
Vergonha provinciana
Fico profundamente revoltada com
os críticos armados em intelectuais.
Como lâminas bem afiadas apuram
língua e mãozinhas analisando profundamente as contribuições culturais dos
demais.
Esta espécie humana observa com
grande astucia os trabalhos dos outros, com o único intuito de encontrarem
alguma aresta menos polida, para depois poderem encher a boca para a censura do
esforço alheio.
Redigem textos elaborados, com um
manejar de palavras mais ou menos rebuscadas para encetarem a sua tão
importante opinião. Geralmente nunca gostam do que observam, os espectáculos ficam
sempre a anos luz das suas tão elevadas ambições.
Como cobras venenosas estão
sempre prontas a lançar o seu veneno.
De braços bem cruzados e corpinho
descansado, acomodam-se nas suas acolhedoras casas, ou no diálogo erudito num
qualquer café de beira de rua, em horas de trabalho profundo em torno da arte
das conversas do dia a dia.
Os criticados, por sua vez,
esfolam a alma e o corpo na procura de algo para dar aos outros, em muitos
casos de forma totalmente gratuita, deixam de comer, de dormir, de ter feriados
ou fins-de-semana, em horas e horas de trabalho pós laboral, fazem-no por um
profundo amor e até generosidade. Não exigem nada, não procuram o êxito, ou
aclamação pública, mas sim a cultura, a melhoria do seu interior e a dos Grupos
a que pertencem, fortalecendo a vida dos demais.
Por tradição os críticos armados
em intelectuais vivem com o olho posto na vida dos outros, quais coscuvilheiras
de beira de esquina. Regra geral não acompanham, não contribuem, nada fazem
para que as coisas melhorem, sejam diferentes, não arregaçam as mangas para o
trabalho, não dão nada mas também nada recebem, pois no ato de cair e levantar,
no procurar, no desbravar também se encontra uma sabedora e uma felicidade
imensa -impagável.
Os críticos iluminados enchem a
boca para falar mal de tudo, não no sentido da crítica construtiva, porque
essas sim são bem-vindas, fazem parte de um crescimento conjunto e contribuem
para a crescente melhoria. Pelo contrário, falam por falar, sem conhecimento de
causa, sem participação, e sem vergonha na cara.
Espanta-me que se teçam comentários
condenando as tradições de um povo, julgando-as e avaliando-as como “modelo
perfeito de provincianismo”.
Caso os mais críticos eruditos
ainda não tenham percebido, a cópia dos actos artísticos alheios não é a
solução, nem económica, nem artística, muito menos cultural. Devíamos todos
procurar nas nossas raízes, as tradições, os costumes, a alma comum, a nossa
história, orgulhemo-nos dela, usando-a como bandeira de crescimento em termos turísticos
nacionais e internacionais, porque o caminho dos nosso querido país à beira mar
plantado è mesmo esse e não outro.
È uma vergonha sentir vergonha das nossas
gentes, do nosso povo, daquilo que nos faz ser diferentes de todas as outras
terras.
Eu também tenho uma grande vergonha por todos
aqueles que se escondem, envergonhados, cobardes, verdadeiros incultos que
ainda não compreenderam que a grande aprendizagem acontece pela observação,
participação e entrega às tradições genuínas, isso sim “è uma cultura
comprometida” e não na cópia de frases feitas pelos outros.
Afinal aquilo que somos deve ser
genuíno, autentico, único, real sem cópias e imitações foleiras, digo eu….
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Tudo muda…até as pessoas
A minha
existência foi sempre silenciosa, pacifica, controlada. Obrigação implícita à
minha condição natural de retrato.
Perdi a noção
do tempo, cada badalada do relógio grande cá da sala era uma nova queda na
minha nostalgia.
Já nada é o que foi, tudo muda…até as pessoas.
Até mesmo a mesa de carvalho, robusta que o Sr. Dr. comprou, faz
muito tempo, tem a madeira gasta, já não tem o cheiro de outras épocas, que
tanto me agoniava.
Uma das suas grandes pernas já estalou e está por pouco para
partir, nem na Páscoa é envernizada. O que esta casa foi e o que é…
Não me recordo como aqui cheguei, sempre me conheci assim, sei que
tenho a imagem da D. Teresinha reflectida, e não podia ter outra, gosto de a ter
em mim.
Ficava profundamente revoltado se pelo contrário tivesse a imagem
de seu pai o Sr. Dr. Florêncio, ui que ideia tenebrosa, estremeço de calafrios
de tal pensamento.
Recordo-me que gostava de se sentar na poltrona ao lado da janela
central, com o seu cachimbo - que raio de cheiro esquisito aquilo tinha.
Colocava as lunetas, observava o jardim exterior do casarão. Nem sei bem
porquê, nunca acalmou a sua fúria, nada o aquietava, nem mesmo o cachimbo.
A D. Teresinha sempre foi uma boa menina, desde pequena a doçura
era a sua companhia. Ao longo dos anos foi controlando a sua felicidade, os
sonantes sorrisos foram substituídos por tímidos movimentos de lábios.
Recordo-me da sua insistência para aprender a tocar piano, mal chegava com os
pés ao chão e os seus dedinhos já enchiam esta sala de magia. Os seus
dedinhos…quais pequenos ramos de flores… as conversas que ela tinha comigo, os
sonhos que me foi desvendando.
Nos seus tempos de infância nunca tinha pó pousado em mim, a D.
Lucélia - sua mãe, fazia questão de manter a ordem, e a limpeza era a regra
máxima.
As lições que a D. Teresinha recebeu - eram horas e horas de
normas e regras, quais decretos governamentais da condição de mulher: Como
comportar-se em público, como comportar-se em casa, como tratar das lides
domésticas, como sentar, como levantar, como olhar, como respirar, como amar…
Bem mas quanto a este tema a menina não cumpriu as regras, ainda
me recordo, do seu ar de inquietude quando conheceu o seu grande amor - o
António.
Chegou a casa ao final da tarde depois de muitas horas a passear
pelo jardim, coradinha de emoção, tremia, os seus olhos tinham um brilho que se
manteve até ao ano passado.
Lia e relia cartas e bilhetinhos, tocava músicas alegres no piano,
rodopiava ao som do silêncio, só o seu coração se ouvia.
Quando as amigas descobriram o motivo da sua alegria rapidamente a
condenaram, pois o Sr. António não era da sua condição, um pobre carpinteiro,
sem estatuto, alienado de uma boa condição social.
Era frequente dizerem à menina que nada teria para aprender com
ele, que era uma vergonha, que ia ser infeliz e uma pobre coitada.
Sempre umas invejosas aquelas meninas! Nunca compreendi o porquê
das mulheres não se auxiliarem nos seus medos, e à medida que os anos iam
passando a pontinha de ciúmes estava presente, com conselhos mais invejosos do
que verdadeiros.
Quando o Sr. Dr. soube foi um terror, as pisadas daquele homem a
entrar na sala eram como machadadas na minha moldura, aquela voz sonante
balançava os candeeiros, até o Tobias - o gato cá da casa, esteve dias sem
aparecer.
Mas a menina Teresa certa dos seus sentimentos enfrentou aquele
homem austero, tenho em mim que o via como um desconhecido, nunca soube o
verdadeiro valor daquela filha.
Como uma guerreira disse que faria tudo o que preciso fosse para
ficar com António, nem que para isso tivesse de fugir. Estremeço só de me
lembrar do som do estalo que levou. As lágrimas ficaram presas nos olhos, mas a
menina externamente não chorou.
No dia do seu casamento a sala foi toda decorada com flores, a luz
da Primavera entrou como convidada principal. Pegaram-me tantas e tantas vezes,
observando-me como se de uma relíquia se tratasse com comentários de admiração
pela beleza da menina, uns quantos também criticaram o facto de ser muito
roliça - uns maldosos…
O António fora a sua luta vitoriosa e a mais certeira, sorrio
só de me lembrar da forma como olhava para a menina, pegando-lhe na mão e
beijando-a com toda a doçura e desejo de um imenso amor. Respeitava-a como
ninguém o tinha feito até então, ficava feliz por sentir o cheiro da Teresinha
nas suas mãos, comungavam dos mesmos delírios, compreendiam-se, o diálogo nunca
escasseou nesta sala, nem o jornal o demovia de a ouvir, a casa sempre foi o
seu refúgio. Não usavam a expressão “Amo-te”, julgo até que nunca os ouvi
proferi-la um ao outro, mas talvez nunca tenha sido necessário.
Gostava especialmente da forma como o Sr. António me observava,
aquele olhar também a mim me fazia feliz…
Não foi fácil gerarem filhos, a Teresinha passou anos de tortura,
sonhava com a sua barriga a crescer, imaginava a criança a nascer em si, a
pegar-lhe, a afagar-lhe o pequeno rosto, a segurar-lhe nas mãos, a tapá-las com
os cobertores de malha confortáveis, que ia costurando no cadeirão do Sr.
António e quanto mais imaginava mais distante lhe parecia essa certeza.
O olhar da menina foi perdendo brilho sendo dominado por uma
nebulosidade permanente.
Quando num Domingo pela manhã a Teresinha entrou na sala,
acompanhada de sonantes gargalhadas, roubadas dos tempos de infância, soube que
o milagre tinha acontecido – a menina só podia estar de esperanças, a vontade
transformara-se em realidade.
Foram meses de alegria…
Mas o parto foi aterrador, como o Francisco era uma criança
gordinha a Teresinha sofrera bastante, uma dor intensa da carne, acompanhada de
uma felicidade transcendente e de uma curiosidade assoberbada. Quando o pegou
pela primeira vez cresceu em si uma profunda responsabilidade, o seu coração
dividiu-se em duas metades, uma delas colou-se ao ritmo do pequeno bebé, a
outra bombeava o próprio sangue para o organismo.
Amamentou-o com o seu ser, à noite só adormecia quando tudo estava
em paz com o pequeno Francisco, não um sono profundo, mas semi desperto,
realidade que nunca mais se alterou. Limpava-lhe as lágrimas com beijos, e
imensas ternuras, cantava-lhe músicas de embalar, contava-lhe histórias de
encantar, brincava como uma pequena garotinha com o seu menino, gastava as suas
mãos sedosas nas imensas roupinhas que lhe costurava. Ria quando o seu menino
sorria, chorava quando o seu pequenino chorava. As dores de Francisco foram
sempre o seu maior sofrimento.
Ao meu lado foi colocado o retrato do pequeno Francisco e no
princípio fiquei radiante de alegria, mas com o passar do tempo tudo mudou…
O colo do Francisco sempre foi o da D. Teresinha, quando se
magoava em alguma brincadeira, chegava a casa alvoraçado para a ternura daquela
mulher, os seus pesadelos eram transformados em doces sonhos, tudo era
apaziguado por aquela voz, ou pelo som das teclas do piano para o distrair de
alguma inquietude. As pautas foram sendo substituídas pelas notas preferidas do
pequeno.
O António sempre foi mais distante no aconchego de Francisco,
talvez pela condição natural de pai.
Sempre achei estranho nunca ter sido carregada pelas mãos do
Francisco, nunca se preocupou em saber a história da menina Teresinha, nem
sequer qual a sua música preferida.
Os anos foram passando e o pequeno tornou-se num homem muito
bonito, tudo muda...até as pessoas.
A D. Teresinha passava horas com o António numa compreensão total,
e profunda partilha de vivências.
O Sr. Florêncio partiu para um local com certeza defumado, escuro
e bem solitário, sitio de onde nunca devia ter saído, ainda me tentou partir
umas quantas vezes mas felizmente nunca conseguiu.
O menino Francisco perseguido pela ideia de seguir as pisadas de
seu avô saiu da terra rumo a Coimbra para seguir a carreira de advogado.
Foram bem escassas as vezes que regressou para visitar a menina,
inicialmente vinha amiúde, mas rapidamente as visitas foram rareando e com elas
as cartas e a proximidade.
A menina por sua vez, não passava uma noite sem pegar no retrato
meu vizinho, limpando as suas lágrimas do vidro.
Desculpava as ausências com mil e um argumentos em que só ela
acreditava.
O piano foi fechado com a chave e assim contínua, transferindo
todos os sons das suas teclas para um intenso silêncio.
Aos Verões seguiram-se as folhas caídas do Outono, e a eles os
Invernos carregados de estrondosas tempestades, as cantilenas dos pássaros na
Primavera não quebraram a atmosfera pesada desta sala.
Os cabelos brancos transformaram os cabelos negros de Teresinha
numa sombra daquilo que foram. A pele foi quebrando e enrugando, como o seu
coração que foi perdendo o vigor.
A tosse de António foi-se transformando na banda sonora daquela
cumplicidade.
As noites deram lugar aos dias, tudo muda... até as pessoas.
Até a imagem em mim reflectida perdeu o brilho, o pó cobriu-me as
entranhas e o reflexo de Teresinha já mal se reconhecia.
António partiu numa manhã de Outono, e com ele levou a pouca
esperança daquela mulher. Francisco não compareceu à cerimónia fúnebre,
impedido por imensos compromissos laborais.
A menina resignou-se à sua companhia, sentada no cadeirão a olhar
para a saudade do passado, tendo como companhia a sua memória, nem
o Tobias restou para companhia, as suas 7 vidas foram todas devidamente
esgotadas.
Aguardava ansiosamente a chegada do carteiro, na expectativa de
notícias do seu menino, aquele que em tempos fora o seu sonho - a sua
realidade, o seu objectivo supremo, a sua carne multiplicada em ser.
Eu e os vidros daquela grande janela fomos as testemunhas de
tamanha solidão.
Teresinha imaginava na incerteza os caminhos que seu filho
percorria, questionava-se pela sua saúde, pela sua alegria, pela sua
alimentação, pelos seus sonhos… Passava os olhos pelos seus dedos, quais ramos
velhos de árvores desnudadas, sombra daquilo que foram, agora vazios,
repletos de histórias, de memórias mas sem ninguém para as contar.
Deixei de ouvir o seu timbre, e que dor isso me causou.
Cheguei a desejar a sua partida, viver assim não era viver, já
nada fazia sentido, nada era o que fora, seu corpo estava há muito só, vazio,
inerte, tudo mudara...até as pessoas.
A minha Teresinha partiu num dia de Primavera, sentada naquela
poltrona de cabedal envelhecido.
Foram muitos os que chegaram para a despedida, até o Francisco.
Inundado de lágrimas beijou as mãos estáticas da sua melhor amiga,
aquela agora desconhecida, inerte, parada, gélida – partira.
De joelhos, Francisco, pediu perdão à Teresinha, e eu fui
testemunha de tal ato, era já tarde demais, nada podia mudar, a menina já não
podia cobrir a sua face de beijos, o seu corpo já não cheirava à sua mãe, nunca
mais ouviria a sua voz a aconselhá-lo e a dizer-lhe “meu filho”.
Tudo muda... até as pessoas.
Eu sou o retrato vago de uma memória do passado, da história desta
casa agora fechada, onde proliferam as teias de aranha e a escuridão, os sons
que oiço são apenas os das madeiras velhas, dos vidros que de quando em vez se
partem, e o cheiro, ui esse - é horrível um odor intenso a mofo que me aniquila
nesta enorme saudade de vida.
Nunca daqui saí, nunca daqui sairei, nunca me esqueci e nunca me
esquecerei da felicidade do passado e do reflexo que trago em mim.
Tudo
muda...menos o meu sentir.
terça-feira, 7 de maio de 2013
Saudades de um amor inexistente
Os olhos procuram no vazio a chama de uma emoção autêntica.
Como o vento forte a solidão destrói-nos.
Os risos lancinantes são sempre isolados.
As mãos enrugam-se, entortam-se, mutua companhia
inconsciente.
Os caminhos percorrem-se em silêncio, um silêncio atroz,
ensurdecedor.
As palavras ecoam fervorosa e dolorosamente na inquietude
devastadora da imaginação.
Os lábios minguam, secam de vontade, torturam-se, perdem a
voluptuosidade.
No deslindar da solidão tudo se transforma.
Nada acontece, nada muda.
A metamorfose do corpo acompanha a mutação da alma.
Verdade cruel ….
Desiludidos, os seios descaem, cabisbaixos, numa soturna
aniquilação da realidade.
Como um rodopio de teclas no piano, os ponteiros do relógio
vão fazendo a sua trajetória, perdendo o vigor em cada segundo.
O ventre vai mirrando como orvalho, dando lugar à secura, ao
pó - ao nada.
A vontade é alienada, substituída, amputada…
O coração é abandonado, ignorado ao seu infortúnio.
Nada acontece, nada muda.
A alma enrijece, descodifica-se, adoece.
A capacidade de sonhar vai-se apagando em cada por do sol.
As noites vão ficando cada vez mais frias, sedentas de
ternura, de amor.
As saudades de um amor inexistente vão destruindo a carne em cada
novo acordar da solidão.
quarta-feira, 17 de abril de 2013
Entre vários mundos
Como
uma tela, sou pincelada de várias nuances de cores, ora mais dramáticas, ora
mais singelas, carregadas e sombrias, mais suaves e quase ténues.
Fui
sendo construída por vários mundos.
Os
mundos que me fazem ser uma mulher cheia de histórias e historietas.
Onde
cada bocadinho é feito de um novo mistério.
São
tantos que nem mesmo eu os conheço a todos.
Sou
habitada por várias personalidades, onde cada uma é alienada das restantes:
A
revoltada, indignada, amargurada, angustiada…
A
sonhadora, imaginativa, criativa…
A
artista, desiluda, solitária…
A
manipuladora, controladora, egocêntrica…
A
profissional, exigente, picuinhas…
A
amante, genuína, expressiva…
A
cómica, extrovertida, livre…
A
cantora desafinada, intensa…
A
líder, autoritária, indomável…
A
tarada, insaciada, voraz…
A
desleixada, desligada, despreocupada…
A
tímida, medrosa, insegura…
A
amiga, preocupada, verdadeira, autentica…
Nem
sempre as personalidades surgem pela ordem colocada, todas se misturam em
diferentes situações.
Existe
uma que nem sempre me acompanha:
-
A estranha que, de quando em vez, vai acordando comigo, transformando os dias
comuns em safaris repletos de montanhas russas imprevisíveis.
Tenho
o ouvido bem aguçado para escutar o turbilhão de musiquetas que saem dos
outros, em muitas ocasiões sem recorrerem a qualquer som, saltam diretamente
dos seus corações.
A
minha boca é grande, mas nem sempre os pensamentos saem facilmente, apertam-se e
saem atropelados, aos trambolhões gritando as silabas de forma desconexa e
descontrolada. Qual porta de emergência do coração, os sentimentos abrem-na sem
qualquer dificuldade, passam pela rampa da língua e saltam para o ar,
desconhecendo o resultado final do salto.
Sempre
tive olhos grandes, grandes demais (acho) de cor castanha, cor da honestidade,
pelo menos assim reza a música. São independentes, como um órgão livre procuram
encontrar as estradas da felicidade em cada imagem que observam, são muito
distraídos perdem-se, quase sempre, com ilusões enubladas por uma miopia
constante distorcida, permanente.
A
minha barriga é proeminente e estou a consciencializar-me que nunca será
pequena, repleta de doces e iguarias, na tentativa de ajudar os olhos na sua
procura pelas estradas da felicidade vai-se enchendo cada vez mais, cada paladar
é um encontro inesperado com um caminho diferente. Anda desiludida, solitária,
mas muito sonhadora e ansiosa de vida.
Sou
o Leão e o Cordeiro.
Perseguida
por uma esquizofrenia constante, gosto de me sentir, a mim, na minha pele.
Sou
sem dúvida e minha melhor: amiga, empregada, patroa, confidente, gestora…
Ainda
na solidão sou escoltada por imensas pessoas, a minha imaginação é constante, as
minhas mãos são sempre as primeiras a limpar as minhas lágrimas, a minha voz é
sempre o som mais familiar que reconheço.
Quando
me olho ao espelho nem sempre me identifico, os movimentos que crio no meu
cérebro nem sempre são os que o meu corpo agiliza, a minha pele nem sempre está
sedosa, o meu cabelo nem sempre ondula, mas dentro de mim voam pássaros,
agitam-se mares, sente-se a relva fresca debaixo dos pés descalços, ainda que
inchados têm a capacidade de planar voando pela magia que é a vida.
Esta
estranha que me habita é a minha melhor companhia, espero que assim seja
sempre, pois quando deixar de a sentir ficarei mergulhada num profundo vazio,
num mundo escuro, oco, sem significado, sem verdade, sem vida.
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