quarta-feira, 8 de maio de 2013

Tudo muda…até as pessoas




A minha existência foi sempre silenciosa, pacifica, controlada. Obrigação implícita à minha condição natural de retrato.

Perdi a noção do tempo, cada badalada do relógio grande cá da sala era uma nova queda na minha nostalgia.

Já nada é o que foi, tudo muda…até as pessoas.

Até mesmo a mesa de carvalho, robusta que o Sr. Dr. comprou, faz muito tempo, tem a madeira gasta, já não tem o cheiro de outras épocas, que tanto me agoniava.

Uma das suas grandes pernas já estalou e está por pouco para partir, nem na Páscoa é envernizada. O que esta casa foi e o que é…

Não me recordo como aqui cheguei, sempre me conheci assim, sei que tenho a imagem da D. Teresinha reflectida, e não podia ter outra, gosto de a ter em mim.

Ficava profundamente revoltado se pelo contrário tivesse a imagem de seu pai o Sr. Dr. Florêncio, ui que ideia tenebrosa, estremeço de calafrios de tal pensamento.

Recordo-me que gostava de se sentar na poltrona ao lado da janela central, com o seu cachimbo - que raio de cheiro esquisito aquilo tinha. Colocava as lunetas, observava o jardim exterior do casarão. Nem sei bem porquê, nunca acalmou a sua fúria, nada o aquietava, nem mesmo o cachimbo.

A D. Teresinha sempre foi uma boa menina, desde pequena a doçura era a sua companhia. Ao longo dos anos foi controlando a sua felicidade, os sonantes sorrisos foram substituídos por tímidos movimentos de lábios. Recordo-me da sua insistência para aprender a tocar piano, mal chegava com os pés ao chão e os seus dedinhos já enchiam esta sala de magia. Os seus dedinhos…quais pequenos ramos de flores… as conversas que ela tinha comigo, os sonhos que me foi desvendando.

Nos seus tempos de infância nunca tinha pó pousado em mim, a D. Lucélia - sua mãe, fazia questão de manter a ordem, e a limpeza era a regra máxima.

As lições que a D. Teresinha recebeu - eram horas e horas de normas e regras, quais decretos governamentais da condição de mulher: Como comportar-se em público, como comportar-se em casa, como tratar das lides domésticas, como sentar, como levantar, como olhar, como respirar, como amar…

Bem mas quanto a este tema a menina não cumpriu as regras, ainda me recordo, do seu ar de inquietude quando conheceu o seu grande amor - o António.

Chegou a casa ao final da tarde depois de muitas horas a passear pelo jardim, coradinha de emoção, tremia, os seus olhos tinham um brilho que se manteve até ao ano passado.

Lia e relia cartas e bilhetinhos, tocava músicas alegres no piano, rodopiava ao som do silêncio, só o seu coração se ouvia.

Quando as amigas descobriram o motivo da sua alegria rapidamente a condenaram, pois o Sr. António não era da sua condição, um pobre carpinteiro, sem estatuto, alienado de uma boa condição social.

Era frequente dizerem à menina que nada teria para aprender com ele, que era uma vergonha, que ia ser infeliz e uma pobre coitada.

Sempre umas invejosas aquelas meninas! Nunca compreendi o porquê das mulheres não se auxiliarem nos seus medos, e à medida que os anos iam passando a pontinha de ciúmes estava presente, com conselhos mais invejosos do que verdadeiros.

Quando o Sr. Dr. soube foi um terror, as pisadas daquele homem a entrar na sala eram como machadadas na minha moldura, aquela voz sonante balançava os candeeiros, até o Tobias - o gato cá da casa, esteve dias sem aparecer.

Mas a menina Teresa certa dos seus sentimentos enfrentou aquele homem austero, tenho em mim que o via como um desconhecido, nunca soube o verdadeiro valor daquela filha.

Como uma guerreira disse que faria tudo o que preciso fosse para ficar com António, nem que para isso tivesse de fugir. Estremeço só de me lembrar do som do estalo que levou. As lágrimas ficaram presas nos olhos, mas a menina externamente não chorou.

No dia do seu casamento a sala foi toda decorada com flores, a luz da Primavera entrou como convidada principal. Pegaram-me tantas e tantas vezes, observando-me como se de uma relíquia se tratasse com comentários de admiração pela beleza da menina, uns quantos também criticaram o facto de ser muito roliça - uns maldosos…

O António fora a sua luta vitoriosa e a mais certeira, sorrio só de me lembrar da forma como olhava para a menina, pegando-lhe na mão e beijando-a com toda a doçura e desejo de um imenso amor. Respeitava-a como ninguém o tinha feito até então, ficava feliz por sentir o cheiro da Teresinha nas suas mãos, comungavam dos mesmos delírios, compreendiam-se, o diálogo nunca escasseou nesta sala, nem o jornal o demovia de a ouvir, a casa sempre foi o seu refúgio. Não usavam a expressão “Amo-te”, julgo até que nunca os ouvi proferi-la um ao outro, mas talvez nunca tenha sido necessário.

Gostava especialmente da forma como o Sr. António me observava, aquele olhar também a mim me fazia feliz…

Não foi fácil gerarem filhos, a Teresinha passou anos de tortura, sonhava com a sua barriga a crescer, imaginava a criança a nascer em si, a pegar-lhe, a afagar-lhe o pequeno rosto, a segurar-lhe nas mãos, a tapá-las com os cobertores de malha confortáveis, que ia costurando no cadeirão do Sr. António e quanto mais imaginava mais distante lhe parecia essa certeza.

O olhar da menina foi perdendo brilho sendo dominado por uma nebulosidade permanente.

Quando num Domingo pela manhã a Teresinha entrou na sala, acompanhada de sonantes gargalhadas, roubadas dos tempos de infância, soube que o milagre tinha acontecido – a menina só podia estar de esperanças, a vontade transformara-se em realidade.

Foram meses de alegria…

Mas o parto foi aterrador, como o Francisco era uma criança gordinha a Teresinha sofrera bastante, uma dor intensa da carne, acompanhada de uma felicidade transcendente e de uma curiosidade assoberbada. Quando o pegou pela primeira vez cresceu em si uma profunda responsabilidade, o seu coração dividiu-se em duas metades, uma delas colou-se ao ritmo do pequeno bebé, a outra bombeava o próprio sangue para o organismo.

Amamentou-o com o seu ser, à noite só adormecia quando tudo estava em paz com o pequeno Francisco, não um sono profundo, mas semi desperto, realidade que nunca mais se alterou. Limpava-lhe as lágrimas com beijos, e imensas ternuras, cantava-lhe músicas de embalar, contava-lhe histórias de encantar, brincava como uma pequena garotinha com o seu menino, gastava as suas mãos sedosas nas imensas roupinhas que lhe costurava. Ria quando o seu menino sorria, chorava quando o seu pequenino chorava. As dores de Francisco foram sempre o seu maior sofrimento.

Ao meu lado foi colocado o retrato do pequeno Francisco e no princípio fiquei radiante de alegria, mas com o passar do tempo tudo mudou… 

O colo do Francisco sempre foi o da D. Teresinha, quando se magoava em alguma brincadeira, chegava a casa alvoraçado para a ternura daquela mulher, os seus pesadelos eram transformados em doces sonhos, tudo era apaziguado por aquela voz, ou pelo som das teclas do piano para o distrair de alguma inquietude. As pautas foram sendo substituídas pelas notas preferidas do pequeno.

O António sempre foi mais distante no aconchego de Francisco, talvez pela condição natural de pai.

Sempre achei estranho nunca ter sido carregada pelas mãos do Francisco, nunca se preocupou em saber a história da menina Teresinha, nem sequer qual a sua música preferida.

Os anos foram passando e o pequeno tornou-se num homem muito bonito, tudo muda...até as pessoas.
A D. Teresinha passava horas com o António numa compreensão total, e profunda partilha de vivências.

O Sr. Florêncio partiu para um local com certeza defumado, escuro e bem solitário, sitio de onde nunca devia ter saído, ainda me tentou partir umas quantas vezes mas felizmente nunca conseguiu.

O menino Francisco perseguido pela ideia de seguir as pisadas de seu avô saiu da terra rumo a Coimbra para seguir a carreira de advogado.

Foram bem escassas as vezes que regressou para visitar a menina, inicialmente vinha amiúde, mas rapidamente as visitas foram rareando e com elas as cartas e a proximidade.

A menina por sua vez, não passava uma noite sem pegar no retrato meu vizinho, limpando as suas lágrimas do vidro.

Desculpava as ausências com mil e um argumentos em que só ela acreditava.

O piano foi fechado com a chave e assim contínua, transferindo todos os sons das suas teclas para um intenso silêncio.

Aos Verões seguiram-se as folhas caídas do Outono, e a eles os Invernos carregados de estrondosas tempestades, as cantilenas dos pássaros na Primavera não quebraram a atmosfera pesada desta sala.

Os cabelos brancos transformaram os cabelos negros de Teresinha numa sombra daquilo que foram. A pele foi quebrando e enrugando, como o seu coração que foi perdendo o vigor.

A tosse de António foi-se transformando na banda sonora daquela cumplicidade.

As noites deram lugar aos dias, tudo muda... até as pessoas.
Até a imagem em mim reflectida perdeu o brilho, o pó cobriu-me as entranhas e o reflexo de Teresinha já mal se reconhecia.

António partiu numa manhã de Outono, e com ele levou a pouca esperança daquela mulher. Francisco não compareceu à cerimónia fúnebre, impedido por imensos compromissos laborais.

A menina resignou-se à sua companhia, sentada no cadeirão a olhar para a saudade do passado, tendo como companhia a sua memória, nem o Tobias restou para companhia, as suas 7 vidas foram todas devidamente esgotadas.

Aguardava ansiosamente a chegada do carteiro, na expectativa de notícias do seu menino, aquele que em tempos fora o seu sonho - a sua realidade, o seu objectivo supremo, a sua carne multiplicada em ser.

Eu e os vidros daquela grande janela fomos as testemunhas de tamanha solidão.

Teresinha imaginava na incerteza os caminhos que seu filho percorria, questionava-se pela sua saúde, pela sua alegria, pela sua alimentação, pelos seus sonhos… Passava os olhos pelos seus dedos, quais ramos velhos de árvores desnudadas, sombra daquilo que foram, agora vazios, repletos de histórias, de memórias mas sem ninguém para as contar.

Deixei de ouvir o seu timbre, e que dor isso me causou.

Cheguei a desejar a sua partida, viver assim não era viver, já nada fazia sentido, nada era o que fora, seu corpo estava há muito só, vazio, inerte, tudo mudara...até as pessoas.

A minha Teresinha partiu num dia de Primavera, sentada naquela poltrona de cabedal envelhecido.

Foram muitos os que chegaram para a despedida, até o Francisco.

Inundado de lágrimas beijou as mãos estáticas da sua melhor amiga, aquela agora desconhecida, inerte, parada, gélida – partira.

De joelhos, Francisco, pediu perdão à Teresinha, e eu fui testemunha de tal ato, era já tarde demais, nada podia mudar, a menina já não podia cobrir a sua face de beijos, o seu corpo já não cheirava à sua mãe, nunca mais ouviria a sua voz a aconselhá-lo e a dizer-lhe “meu filho”.

Tudo muda... até as pessoas.
Eu sou o retrato vago de uma memória do passado, da história desta casa agora fechada, onde proliferam as teias de aranha e a escuridão, os sons que oiço são apenas os das madeiras velhas, dos vidros que de quando em vez se partem, e o cheiro, ui esse - é horrível um odor intenso a mofo que me aniquila nesta enorme saudade de vida.

Nunca daqui saí, nunca daqui sairei, nunca me esqueci e nunca me esquecerei da felicidade do passado e do reflexo que trago em mim.
Tudo muda...menos o meu sentir.


terça-feira, 7 de maio de 2013

Saudades de um amor inexistente


Os olhos procuram no vazio a chama de uma emoção autêntica.
Como o vento forte a solidão destrói-nos.
Os risos lancinantes são sempre isolados.
As mãos enrugam-se, entortam-se, mutua companhia inconsciente.
Os caminhos percorrem-se em silêncio, um silêncio atroz, ensurdecedor.
As palavras ecoam fervorosa e dolorosamente na inquietude devastadora da imaginação.
Os lábios minguam, secam de vontade, torturam-se, perdem a voluptuosidade.
No deslindar da solidão tudo se transforma.
Nada acontece, nada muda.
A metamorfose do corpo acompanha a mutação da alma.
Verdade cruel ….
Desiludidos, os seios descaem, cabisbaixos, numa soturna aniquilação da realidade.
Como um rodopio de teclas no piano, os ponteiros do relógio vão fazendo a sua trajetória, perdendo o vigor em cada segundo.
O ventre vai mirrando como orvalho, dando lugar à secura, ao pó - ao nada.
A vontade é alienada, substituída, amputada…
O coração é abandonado, ignorado ao seu infortúnio.
Nada acontece, nada muda.
A alma enrijece, descodifica-se, adoece.
A capacidade de sonhar vai-se apagando em cada por do sol.
As noites vão ficando cada vez mais frias, sedentas de ternura, de amor.
As saudades de um amor inexistente vão destruindo a carne em cada novo acordar da solidão.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Entre vários mundos






Como uma tela, sou pincelada de várias nuances de cores, ora mais dramáticas, ora mais singelas, carregadas e sombrias, mais suaves e quase ténues.

Fui sendo construída por vários mundos.

Os mundos que me fazem ser uma mulher cheia de histórias e historietas.

Onde cada bocadinho é feito de um novo mistério.

São tantos que nem mesmo eu os conheço a todos.

Sou habitada por várias personalidades, onde cada uma é alienada das restantes:

A revoltada, indignada, amargurada, angustiada…

A sonhadora, imaginativa, criativa…

A artista, desiluda, solitária…

A manipuladora, controladora, egocêntrica…

A profissional, exigente, picuinhas…

A amante, genuína, expressiva…

A cómica, extrovertida, livre…

A cantora desafinada, intensa…

A líder, autoritária, indomável…

A tarada, insaciada, voraz…

A desleixada, desligada, despreocupada…

A tímida, medrosa, insegura…

A amiga, preocupada, verdadeira, autentica…

Nem sempre as personalidades surgem pela ordem colocada, todas se misturam em diferentes situações.

Existe uma que nem sempre me acompanha:

- A estranha que, de quando em vez, vai acordando comigo, transformando os dias comuns em safaris repletos de montanhas russas imprevisíveis.  

Tenho o ouvido bem aguçado para escutar o turbilhão de musiquetas que saem dos outros, em muitas ocasiões sem recorrerem a qualquer som, saltam diretamente dos seus corações.

A minha boca é grande, mas nem sempre os pensamentos saem facilmente, apertam-se e saem atropelados, aos trambolhões gritando as silabas de forma desconexa e descontrolada. Qual porta de emergência do coração, os sentimentos abrem-na sem qualquer dificuldade, passam pela rampa da língua e saltam para o ar, desconhecendo o resultado final do salto.

Sempre tive olhos grandes, grandes demais (acho) de cor castanha, cor da honestidade, pelo menos assim reza a música. São independentes, como um órgão livre procuram encontrar as estradas da felicidade em cada imagem que observam, são muito distraídos perdem-se, quase sempre, com ilusões enubladas por uma miopia constante distorcida, permanente.

A minha barriga é proeminente e estou a consciencializar-me que nunca será pequena, repleta de doces e iguarias, na tentativa de ajudar os olhos na sua procura pelas estradas da felicidade vai-se enchendo cada vez mais, cada paladar é um encontro inesperado com um caminho diferente. Anda desiludida, solitária, mas muito sonhadora e ansiosa de vida.  

Sou o Leão e o Cordeiro.

Perseguida por uma esquizofrenia constante, gosto de me sentir, a mim, na minha pele.

Sou sem dúvida e minha melhor: amiga, empregada, patroa, confidente, gestora…

Ainda na solidão sou escoltada por imensas pessoas, a minha imaginação é constante, as minhas mãos são sempre as primeiras a limpar as minhas lágrimas, a minha voz é sempre o som mais familiar que reconheço.

Quando me olho ao espelho nem sempre me identifico, os movimentos que crio no meu cérebro nem sempre são os que o meu corpo agiliza, a minha pele nem sempre está sedosa, o meu cabelo nem sempre ondula, mas dentro de mim voam pássaros, agitam-se mares, sente-se a relva fresca debaixo dos pés descalços, ainda que inchados têm a capacidade de planar voando pela magia que é a vida.

Esta estranha que me habita é a minha melhor companhia, espero que assim seja sempre, pois quando deixar de a sentir ficarei mergulhada num profundo vazio, num mundo escuro, oco, sem significado, sem verdade, sem vida. 
 
 
 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

O comboio partiu





O comboio partiu  pela última vez no dia 31 de Maio de 1987, desfilou pela planície cheio de segredos e histórias, de homens e mulheres inigualáveis, banhados por uma coragem superior.
Foram muitas as viagens que se fizeram, carregadas de força, tristeza e alegria, muitas lágrimas e imensos sorrisos.
Gentes que lutaram, lutaram desenfreadamente, trabalharam a terra com amor, esta mesma terra que agora pisamos, criaram o sonho pelas próprias mãos e construíram em Fafe o cenário ideal para crescer…
Fizeram destes capítulos recheados de memórias um livro fantástico…
O que nos deixaram foram páginas em branco do livro ainda inacabado, por isso, continuemos juntos a lutar, lutemos com toda a nossa força para que as gerações vindouras recordem a nossa história, e se orgulhem da nossa garra. Que das nossas mãos e da nossa alma brote imensa coragem, para que Fafe continue a ser o verdadeiro hino à vida… e seja eternamente um local mágico para sentir e amar…
Mas….será que estas pessoas que estiveram aqui nesta praça existiram mesmo? Terá sido real ? Será que tudo não passou de um sonho? De uma lenda?
O estranho é que ainda sinto o cheiro a broa, o som do realejo, olho para estes edifícios e sinto o sotaque Brasileiro, oiço o riso das gentes de Fafe, e encho-me de orgulho por ter estado aqui, ter feito parte desta história, ser deste Minho, desta cidade…
 

terça-feira, 19 de março de 2013

A vilã

Quando não se pode gritar alto e a bom som, num qualquer local público, com a raiva avassaladora das teias de aranhas que nos cobrem as paredes internas, do nosso imenso mar interior escreve-se.
Despeja-se como se de um saco de lixo se trata-se todos nossos resíduos, os bons, os maus e os ainda reaproveitáveis.
Cada palavra tem o seu peso, conta histórias, transporta sentimentos, muitas escondem-se debaixo dos moinhos de vento, outras voam nos espirros da verdade.
As minhas palavras quando são doídas, costumam saltar-me da boca, qual milho em panela quente, abrem-se, transformam-se, sonantes, titilantes, queimando-me o timbre, modificam-me o sentido da mensagem, deixando-me muitas vezes revoltada, magoada, desanimada.
Vibro desanimadoramente, como uma pipoca queimada, fico feia aos olhos de que quem me vê, de quem me ouve, de quem me sente. Transfiguro a minha essência através de um espelho baço, sujo, velho, quase repugnante.
Observam-me, criticando, desiludidos na minha explosão.

Afinal quando não falo através de palavras, faço-o através dos olhos, das expressões, da própria carne, nunca fui grande atriz da vida real.


Nasci como um ribeiro que teima em não encontrar o caminho para o mar, vai secando, secando a cada segundo, desacreditando a cada instante.
Quem sou é exposto, ininterruptamente, como a própria natureza, sem subterfúgios ou ilusões, quer se goste ou não, aceite ou se conteste.
Invariavelmente, por isso, sou o reflexo da vilã num filme com personagens reais.
Afinal depois de tudo isto o que importa? sou desta essência - a da verdade…

Plágios das Fadinhas


As mãos transportam para os dedos, que através da tinta das canetas, criam palavrinhas no papel e descrevem aquilo que somos.
De uma forma mais ou menos genuína, mais ou menos sentida, mais ou menos trabalhada, impreterivelmente encaminham o que é nosso, autenticamente.
Assim e só assim vale a pena, só assim é verdadeiro.
Sejam poemas, documentos técnicos, pensamentos, narrações, diálogos, não importa…são de quem os cria, de quem os sente, de quem os imagina, são das mãos de quem os escreve.

Sou profundamente contra os plágios, as cópias, os roubos de textos. Isso não é mais do que usurpar algo que não foi sentido por quem se diz seu autor, não parte do seu conhecimento, das suas raízes.

O vento que eu apanho na cara, e que passa pelos meus poros, colocando um pássaro branco, pacificador na alma, as pisadas descalças que dou em vidro afiado e os cortes que disso advém são minhas. As cicatrizes que tenho no coração e que nenhuma agulha por mais grossa e polida que esteja é capaz de coser são minhas e só minhas.

Os campos de azuis oceanos, regados de chocolate em calda, o cheiro a pão acabado de fazer são imagens dos meus sonhos, não de quem teima em roubar-me a essência.

Os gigantes muros que crio em meu redor são muralhas de algodão doce que me fazem crescer com os pés bem descalços sobre colchões de algodão.

As fadinhas não entendem que as palavras escritas são a minha tábua de salvação, a minha boia em mar revolto, a minha tímida nudez no meio da multidão?

A enorme satisfação que experimento ao sentir o prazer que as pessoas sentem ao ouvir as minhas palavras, é também a enorme culpada pela transfiguração do meu ser em egoísmo e avareza, pela utilização dos meus pensamentos como sendo seus.

Experimento um sentimento desconhecido, estranho, mau, de raiva, impotência, pois como se de vampiros se tratassem sugam-me o sangue até à última gota, maus ou bons é o meu sangue que está ali exposto através dos dedos, que através das canetas, criam palavrinhas no papel e descrevem aquilo que sou.

È tão fácil pegar no que é dos outros e assumir-se como nosso, é simples, dá pouco trabalho, afinal nem precisa de se ligar a bolinha cinzenta ao fio terra. Mas é tão difícil para quem se vê alheado, roubado, quase como que violado da sua pureza, a alma é desbravada em hasta pública sem limites, sem humildade, sem verdade…

Transformam as palavras em estandartes da mentira, da hipocrisia e do roubo.

As fadinhas não entendem que assim me matam a autenticidade.

domingo, 3 de março de 2013

VÁ buscar inspiração a outro lado sim????

Meus queridos como algumas coisas estranhas têm vindo a acontecer em relação às ideias para os posts, tenho de tomar algumas medidas e conto com a vossa ajuda. Pela 3.ª vez consecutiva observo um outro blog, com posts com os mesmos títulos e com o mesmo género de ideia neles contida, não estou a achar grande piada. Por isso, estou a pensar colocar o blog privado, caso assim o entenda devem pedir a senha para poderem entrar. Mais vale prevenir do que remediar. Sinceramente nunca gostei de açambarcadores de ideias.