quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Impostos


Todos os anos me queixo do mesmo: Impostos.
Todos os anos sou vítima de roubos das mais variadas formas e feitios, com a agravante de não poder fazer a denúncia à polícia, dado que os assaltantes são o próprio governo.
Por grande infelicidade da vida fui obrigada a trabalhar a recibos verdes, isto porque quero ter trabalho. Ora neste país à beira mar plantado, inventaram um sistema tão corrupto como os políticos que lhes ditam as leis, os patrões acharam a ideia absolutamente fantástica. Prescindem dos contratos, que os obrigaria a pagar direitos aos trabalhadores (ainda que poucos), subsídios de Natal e de férias, já para não falar nos de refeição.
Contudo, as obrigações essas são as mesmas de um qualquer contratado, sim desde as picagens, posto de trabalho e horas extra, mas os pagamentos dessas horas são para esquecer, segundo eles: os patrões “queres ter trabalho, é assim, caso contrário vai-te embora”, mais palavra bonita, menos palavra a mensagem é essa.
Como bom Zé povinho que sou tenho de calar e fazer, caso contrário aplica-se a velha frase: quem está mal que se mude. Boa frase essa, mas mudar para onde, como ???
O que devo mais fazer? Se fui estudar, fui, se continuo a tentar melhor as minhas capacidades técnicas, teóricas, sociais, humanas a resposta é afirmativa, paguei as minhas propinas e paguei sempre os meus impostos, deveres enquanto cidadã. Se dou o meu melhor em cada dia, sempre, tentando superar em termos de resistência física e emocional sempre. Se travo uma luta diária comigo entre a ética, lógica e obrigação sempre. Se visto a camisola da entidade para quem trabalho é uma realidade, ainda que por vezes ela seja demasiado apertada e quase me asfixie. Se procuro acreditar que o amanhã será melhor é uma certeza, mas o amanhã nunca chega.
Tudo isto para quê? Só tenho obrigações, direitos não tenho nenhum. Contribuo em todas as vertentes para este pais e o que é que ele me dá? Revolta e desânimo. Como posso acreditar no futuro se nem no presente eu acredito.
A escumalha dos patrões e políticos roubam a massa trabalhadora de uma forma atroz, vivem à custa do suor e sacrifício dos que efetivamente trabalham, alarves.
Reviro e revolto o cérebro à procura de uma saída que me torne mais sustentável e viável financeiramente, pergunto-me se não deveria abrir uma empresa minha, em que eu fosse a decisora, ou então emigrar, fugir deste país de ladrões que não merece ter uma massa trabalhadora como a que tem: que se desdobra em 1000 funções, que dá o litro, que veste muitos papéis.
O melhor mesmo é trabalhar ao negro ou então viver do RSI, ao menos roubamos os outros e impedimos que nos roubem a nós.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Abutres


Como uma bola sobe intensa pressão caminho nos minutos desta vida.
Sobe o olhar atento de abutres, que se apoderam de cargos de poder, domínio que lhes salta de cada poro da pele. Gente incapaz de se auto analisar, de fazer uma observação à sua conduta, tal é o medo da pobreza de espirito que vão encontrar.

Esses medíocres que têm como objetivo único o aumento dos zeros nas suas contas bancárias. Para tal desígnio colocam de lado os direitos humanos, a honestidade, a ética, a verdade.

Julgam-se donos da verdade e do mundo.
Criticam os vigaristas famosos, que surgem nos holofotes da fama, enchendo a boca para falar em verdades, justiças e esquecem-se de se olhar ao espelho, esses abutres.

Enchem a pança em banquetes opulentos, mastigam as carnes desmesuradamente, da mesma forma que comem a alma dos seus sobrevenientes.
Na sombra surgem os inúteis de mais pequena escala que picam o ponto de entrada nos seus trabalhos, que de trabalho têm apenas o nome. Com o rabo bem refastelado, aquecido pela força dos ares condicionados, atados à sua inércia, palermas sem lei que a única coisa que sabem fazer é fugir às responsabilidades. Nada fazem para justificar o dinheiro que se lhe é pago no final do mês. Atiram responsabilidades para o corpo dos outros sem dó nem qualquer piedade. Refugiam-se na sua vil ignorância, onde a única preocupação é ler as ultimas notícias dos blogs da treta, ou observar o último verniz que saiu para o mercado. Na sua razão pisam os outros com o mesmo descaramento com que sorriem para uma qualquer notícia cor-de-rosa ao longo de 8 horas de trabalho, nos 365 dias de cada ano.

Com vozinhas adocicadas e ares de vítimas, onde a maior preocupação é a marca do creme que vão colocar no seu cuidado umbigo.
É esta escumalha que prolifera ao meu redor.

O cheiro a podridão da hipocrisia é de tal forma nauseabundo, que sinto que vou asfixiar a qualquer momento.
Essa aragem entra-me pelas narinas, invadindo-me o cérebro, os olhos, desce pelo sistema sanguíneo, invadindo-me cada artéria, enchendo por inteiro o coração e a alma, quer subir de novo e explodir na boca mas a maquiavélica podridão da sociedade bloqueia-me as palavras, fazendo-as explodir constantemente no meu interior, a qualquer hora do dia, em qualquer dia da semana. Invade-me de tal forma que começo a ter vergonha de me olhar ao espelho.

Sou quase uma estranha neste corpo.
Esses abutres roubam um bocado da minha essência a cada dia que com eles lido.

Abafam-me o riso, as espectativas, os sonhos, a alegria de acreditar na verdade.
Tornam-me numa mulher fria, indiferente, egoísta.

Nesta selva quem se safa é quem melhor aldraba, melhor se esconde, melhor parece, e ou se joga com as mesmas regras ou salta-se fora.
O meu cérebro e o meu corpo querem fugir para bem longe, o mais rapidamente possível, este jogo não é o meu.

Quero voltar a encontrar a mulher que sempre fui, aquela que eu sempre conheci, temo agora que os abutres já a tenham morto e nem eu tenha dado conta disso.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Ao meu pai


Reconheço a sua espécie de assobio, esteja onde estiver, sinto o seu timbre, a sua musicalidade, decifro o seu estado de espirito a qualquer instante.

O seu jeito de caminhar, com os braços cruzados, ou com as mãozinhas nos bolsos.

Como que um odor presente em mim, o cheiro do meu pai é incomparável, pergunto-me se esse sentimento virá dos tempos em que repousava no berço. Gostava que esse perfume me acompanhasse sempre, para que a segurança caminhasse lado a lado, amarrada às minhas passadas.

Segundo a minha mãe foi ele quem me ensinou a dar os primeiros passos, o que tem a sua graça, pois ainda hoje continua a segurar-me os braços e a encaminhar-me para as diversas estradas da vida. 

Fecho os olhos e sinto-o a pegar-me às cavalitas e a colocar-me na cama, junto com a minha irmã, a tapar-me com cuidado. Renasce em mim o calor da proteção, das noites tranquilas da infância, em que a única preocupação era encontrar nos sonhos as princesas da imaginação.

Sinto o vento quente a bater-me na cara, e a alegria de andar de mota, sentada entre os seus braços, com as pernitas encostadas ao depósito de uma Casal 2, qual pássaro azul a voar pelos oceanos, experimento novamente a sensação de planar pelo sol quente de Verão.

Encosto-me ao seu ombro e revejo-o a tratar-me cuidadosamente das inúmeras feridas, resultado de incontáveis quedas. Esteve sempre lá para me levantar, munido de Betadine, Mercúrio, álcool e o suave algodão, apetrechos que sempre o acompanharam, o meu enfermeiro 24 horas, sem feriados, férias, dias santos ou folgas.

Desde sempre fui intolerante à dor, qualquer picada de inseto era motivo de uma enorme gritaria, e o que eu sofri com dores de ossos. As noites eram intermináveis pesadelos, como não tinha o que me distraísse, gritava com toda a força, com a boca bem aberta (e não era pequena), calmamente o meu pai massajava-me o corpo com pomadas, pomadinhas e uma panóplia de mesinhas, que me ajudavam a serenar a dor.

Ainda o oiço nas cantorias matinais de Domingo, a toda a força imitava o Pavarotti, o que me enervava aquele ruidoso despertador, e o que me apertam as saudades da sua sonante alegria que agora relembro.

A expressão facial quando se enerva ainda continua a mesma, basta olhar para ele que sei exatamente quando algo o incomoda.

Quando era miúda, adorava as caixas de bolachas sortidas, principalmente as embrulhadas em papelinhos de prata coloridos, era capaz de me sentar ao lado da caixa e só terminar quando acabassem todas, ignorando se os outros teriam a hipótese de as saborear. Bastava olhar para a sua expressão que descodificava logo a mensagem, nunca percebi como é que ele fazia aquilo, pois eu era efetivamente uma traquinas, sem grandes fitas, eu parava com as atitudes menos próprias. Nesse ponto acho que o meu pai poderia dar formação aos papás de hoje, que deixam as suas crias a berrar desalmadamente e fazem asneiras debaixo das suas barbas, sem mexerem uma palhinha que seja.

As saudades que eu tenho de lhe sentir a mão tocar no alto da minha cabeça, e a agarrar-me o ombro para acalmar, as saudades que tenho dos anos em que muitos faltavam para viver sob a sua mão que me amparava todas as quedas.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Tempos


 
 
Corro atrás do tempo, como uma louca procuro um momento, uma pequena sensação, uma notícia, uma emoção que nem eu reconheço.

De tão rápida que é a corrida passo pelos momentos a uma velocidade vertiginosa. A vida foge-me por entre os dedos como água que se evapora, transformando-se em pequenos nadas.

As noites tornam-se pequenas, porque o sono tarda em chegar, cada dia é vivido na plenitude total das suas horas. Não quero dormir porque há sempre mais em que pensar, algo para ver, sentir e descobrir.

Mas os dias são sempre iguais…. a lua está sempre lá longe e o sol dá-lhe sempre espaço para poder brilhar.

As estradas trazem-nos sempre ao ponto de partida, por mais quilómetros que se façam, o regresso é sempre um reencontro. Com os nossos medos, inseguranças, desilusões, partidas e essas muitas vezes definitivas.

E aquelas frações de minutos em que somos imensamente felizes passam diretamente para o nosso arquivo das memórias, tão rápida como inesperadamente, a corrida é imediata na tentativa de regressar ao ponto de partida, ingénuos não entendemos que esses jamais regressam.

O tempo é indomável, veloz, e até matreiro pois só nos dá a oportunidade de sermos felizes no agora.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Dança da Primavera




Procuro no silêncio a luz…
Que transporte com ela o brilho da infância.
Aquela luz quente que sempre me enchia a face.
Nas tardes de Primavera.
Quando as minhas pernas eram ainda muito pequenas para poderem alcançar as árvores, os seus galhos e os pássaros que nelas repousavam.
Quando o meu corpo era ágil, tão ágil que desdobrava os sonhos e criava realidades.
No tempo em que dançava por entre os campos de girassóis.
Rodopiando, rodopiando, com o meu longo cabelo a ondular na brisa da fantasia.
Onde em cada fio, pendiam pássaros.
Aqueles que me elevavam ao cume das árvores e me faziam girar e girar, numa dança sem fim.
Fechava os olhos e ouvia a sua música e eles bailavam e bailavam comigo, num ritmo alucinante.  
Naquela relva fresca, tão fresca que os meus pés sempre descalços eram invadidos de tamanha energia que quase me faziam voar e voar pela imensidão dos campos amarelos.
De braços bem abertos na tentativa de abraçar o mundo era puxada para um lugar repleto de paz.
Sempre julguei possível agarrar o círculo da terra.
Aquele azul, o azul do céu e do mar.
Naquela longitude, onde o infinito é sempre alcançável.
Onde o sol sempre brilhou.
Procuro e procuro a luz.
Aquela luz …
Que transporte com ela aquele brilho, aquele odor, aquela brisa - a da infância.
Fecho os olhos e já não sinto os pássaros no meu cabelo a elevarem-me, a dançarem comigo nos campos amarelos.
Os meus braços já não se abrem para abraçar o mundo.
Luto, incessantemente para que seja ele a abraçar-me.
Neste tempo em que não dou já passos descalça.
Nesta Primavera em que os campos continuam amarelos.
O azul do Mar e do céu sempre longínquo se mantem no mesmo local.
O sol continua a brilhar e a aquecer-me a face.
Esta que agora me acompanha.
Nesta pele que me cobre e que eu já mal reconheço.
Estas mãos que ansiavam agarrar as brisas frescas.
Estão agora diferentes, enrugadas, manchadas pela vida que foram desbravando …
Mas foram elas sempre as primeiras a afagarem-me as lágrimas
Esta estranha que agora me habita procura, ainda, a luz, aquela Luz… 
 
 

segunda-feira, 12 de maio de 2014

O regresso


Ora cá estou de regresso, depois de uns tempos parada para introspeção interior eis que surge de novo este amor pelo mundo dos blogs. Cara lavada e nome fresquinho, numa renovação completa da vida.

1.º Grande novidade FINALMENTE tenho casa, sim minha, só minha, com uma conta gigante para pagar.

2.º Estou focada nela e só nela para esta nova fase da minha vida.

3.º Ainda tenho o maldito aparelho.

4.º Sinto-me segura de mim mesma.

5.º Tenho tantos projetos que precisava de me reinventar criando uma replica da minha pessoa.

6.º Continuo a correr atrás da felicidade.

7.º Vou conseguir apanhá-la.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

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